quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Um ano sem Renato Russo parte III - Detidos na estreia - A Legião terminou seu primeiro show nos braços da polícia


DETIDOS NA ESTRÉIA

  Detidos na estréia Surpreendentemente o primeiro show da Legião Urbana não foi em Brasília. Aconteceu dia 12 de fevereiro de 1982, na cidade de Patos de Minas, MG. A estréia foi o mais marcante possível: no final da apresentação, a banda saiu algemada do palco. O evento chamava-se Festa do Milho e, entre atrações bem populares, o produtor resolveu encaixar dois grupos de rock: a Legião Urbana e a Plebe Rude, que na época era a banda que mais fazia sucesso em Brasília. O guitarrista Paraná conta: "Vivíamos o governo Figueiredo e estava cheio de polícia no lugar. Enquanto tocávamos, o André Muller, baixista da Plebe, conversava com os peões da platéia, jogando todo aquele papo socialista que a gente já conhece das músicas da Plebe Rude. Durante o show, eles perguntavam aos trabalhadores o que achavam do salário que recebiam, se concordavam com as condições em que viviam... Pronto. Foi só descermos do palco que havia uma fila de policiais nos esperando para nos levar para a delegacia. Ficamos detidos por algum tempo antes de ser liberados". Depois dessa experiência, Paraná ainda faria outros poucos shows com a Legião. O mais importante de todos aconteceu num pequeno festival ao ar livre, num local conhecido como Centro Comercial Norte. Nessa época, com Renato no baixo e Marcelo Bonfá na bateria, eles tocavam, entre outras, "Química", "Música Urbana", "Faroeste Caboclo", "Conexão Amazônica" e duas canções que depois foram abandonadas: "Carne Clandestina", sobre a maneira pouco saudável de como a carne de boi chegava à Brasília, e a instrumental "O Cachorro". "Essa apresentação foi interessantíssima. Não foi um sucesso estrondoso, não tinha tanta gente na platéia. Mas o público reagiu muito bem. Pode-se dizer que foi um grande passo para a banda."
  Com a saída do guitarrista, bom demais para os padrões punks que Renato idealizava (leia mais no quadro ao lado), a solução mais rápida e conveniente foi a entrada de Ico Ouro-Preto, que havia tocado na última fase do Aborto Elétrico. Ele fez alguns ensaios com a banda, mas saiu do grupo sem fazer um showzinho sequer. Reza a lenda que Ico se pelava de medo do palco. É aí que, quando Renato e Bonfá já pensavam em formar um núcleo e só chamar guitarristas convidados, surge Dado Villa-Lobos. Ele chega para "apagar um incêndio" e tocar num show pouco após entrar no grupo. A "tchurma" havia alugado o Teatro da AOB (Associação Odontológica Brasileira) por quatro finais de semana. Era a primeira vez que bandas como Blitx 64, Capital Inicial, Plebe Rude, XXX e Legião Urbana se juntavam para um grande evento cultural juntos. "Como havíamos alugado o teatro, ficamos ensaiando lá direto. A gente era quase hardcore, mas como as melodias do Renato eram geniais, o resultado acabou ficando bem satisfatório. Viramos a zebra do páreo. Nos saímos tão bem que a galera resolveu nos dar a maior força", conta Dado, que naquela noite se apresentou de pijama. "Só tocamos umas sete músicas. Era mais um negócio de tocar para os amigos, uma festa... Mas como continuamos ensaindo forte para as sete apresentações que restavam, acabamos até fazendo algumas canções naquele teatro. "A Dança" e várias outras músicas que entraram no primeiro disco tiveram seus arranjos finais feitos lá", revela. Dali em diante, a carreira da Legião começou a engrenar. "Partimos para shows na Escola Parque, no Galpão, nas cidades-satélites de Brasília e o resto você já sabe...", conclui Dado. 

Músico demais 
  Kadu Lambach, mais conhecido como Paraná, foi o primeiro sujeito a assumir a guitarra na Legião Urbana. Muito influenciado por Jimmy Page, Jimi Hendrix e Jeff Beck, ele era considerado um dos melhores guitarristas de Brasília e, depois de ter seu a trabalho observado por Renato Russo num showzinho num bar do Lago Sul, recebeu o convite de Renato: "Cara, você toca muito. Quer formar uma banda comigo?" Paraná não pensou duas vezes. "Já sabia do talento do Renato e, além do mais, eu ia entrar para a ‘tchurma’", conta. Ficou no grupo por alguns meses e ajudou a dar a primeira cara da banda. "Me lembro de um ensaio que, depois de uma música, o Renato olhou no fundo do meu olho e disse: ‘Paraná, esse negócio vai dar certo.’ Cara, era como se ele estivese fazendo um pacto comigo." Só que esse pacto não durou muito tempo. Meses depois, o guitarrista deixava o grupo para se dedicar mais à música. Embora se desse muito bem com Renato, Paraná era músico demais para os padrões punks da época. Às vezes, ele reconhece, exagerava um pouco no tamanho dos solos. O punk rock era muito simples para Eduardo Paraná. Ele queria ser um virtuose. E conseguiu. Hoje, tomou o caminho do jazz e se transformou num guitarrista ainda melhor. Last Blues, seu primeiro disco, traz jazz fusion de qualidade. A faixa-título, um blues instrumental, é dedicado à memória de Renato. "Ele ia fazer a letra desta música e cantar no disco. Havíamos nos falado e tínhamos acertado tudo. Infelizmente, ele se foi no dia em que eu enviei o tape para a casa dele no Rio." Quem quiser conferir o CD de Kadu (independente), ligue para: (061) 346-2001.

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