terça-feira, 31 de agosto de 2010

Bizz número zero - John Fogerty

JOHN FOGERTY

    Quem tem mais de 25 anos talvez ainda se lembre do Creedence Clearwater Revival. Alguns temperam essas memórias com ódio incontrolável, certos de que o Creedence jamais passou de um subproduto do rock, uma bandinha competente com o taro aguçado para o sucesso e indigno de maiores atenções justamente pelo tato de ter tido sucesso demais - mais de 10 milhões de discos vendidos em menos de três anos de carreira meteórica. Outros, porém, lembram-se do Creedence como tendo sido uma das mais importantes e influentes bandas norte-americanas dos anos 60/70, artistas capazes de misturar o country & western (a música caipira dos EUA) e o blues como poucos conseguiram fazer. São os que sob os ritmos e as melodias fáceis de clássicos do COR - como "Green River, "Bom on the Bayou" e "Lodi" - conseguiram encontrar um retrato político e social da América daquele tempo.
    Para estes últimos o COR poderia ser resumido em duas palavras: John Fogerty. Mais do que a bateria básica de Doug Clifford, o baixo econômico de Stu Oook e a guitarra ritmo de Tom Fogerty (são irmãos), era John Fogerty quem simbolizava o grupo, um branco californiano com uma voz impossívelmente negra. Todas as músicas, os arranjos, os solos e as harmonias vocais (em disco) eram de John - - ele era o COR.
    Quando o grupo acabou, em 1972, todos os ex-integrantes do COR desapareceram no anonimato, exceto John - ele gravou dois álbuns-solo (tocando todos os instrumentos) e alguns compactos. Um terceiro álbum, Hoodoo, foi prometido em 1976, mas jamais saiu. E, desde então, John também ficou desaparecido.
    Até que, no final do ano passado, John ressurgiu com Centerfield, um álbum, que atualiza a sonoriedade rústica do COR e abre uma verdadeira clareira no chacundun pasteurizado do som-padrão FM. Imediatamente içado pela crítica à categoria de clássico, Centerfield acabou repetindo os êxitos de vendas dos discos do COR, permanecendo por meses a fio na lista dos 10 mais vendidos da revista Billboard.
    O vazio deixado por Fogerty - em sua carreira solo - de 76 até 84 - é explicado por uma complicada briga judicial entre o COR e sua antiga gravadora, a Fantasy. O COR acabou vencendo e recebeu os mais de 9 milhões de dólares que a gravadora lhe devia de royalties atrasados. E John estava, finalmente, livre de preocupações para poder voltar a trabalhar.
    Mas não foi um processo fácil. Fogerty trancou-se em seu estúdio, em Oakland, e começou uma série de experimentações. "Tentei disco, tentei punk", diz John, "tentei musiquinhas açucaradas, tentei art-rock cheio de sintetizadores, bem inglês, mas nada daquilo me parecia verdadeiro. Só me senti confortável quando comecei a tocar alguma coisa mais crua, mais selvagem. "Foi assim que surgiu Centerfield,"
    Como nas incursões solo anteriores, John é uma espécie de banda-de-um-homem-só. Ao vivo, Fogerty usaria outros músicos, mas no estúdio ele ainda prefere ficar sozinho. "Como ouvinte, eu adoro bandas", explica John. "Mas quando você faz parte de um grupo você também está casado com cada um dos integrantes. Acontecem coisas como por que você espreme o tubo de pastas de dentes no meio?. E, rapidamente, muita gente perde a perspectiva do motivo da existência daquela banda: lazer boa música, juntos."

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