terça-feira, 31 de agosto de 2010

Bizz número zero - Meu instrumento (Herbert Vianna)


HERBERT VIANNA

    Ele usa óculos. Tem uma invejável coleção deles só superada por uma segunda coleção -    a favorita - que, ironicamente, ajudaria a celebrizar nacionalmente os óculos: as 10 guitarras de Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso.
    O caso de amor de Herbert com a guitarra começou bem cedo, quando, aos 5 anos, ele viu os Beatles na TV pela primeira vez. "O que me pegou, em primeiro lugar, foi a atitude do guitarrista", explica Herbert, E muito diferente uma guitarra de um teclado, por exemplo. Quando você vai tirar aquele acorde que vem do fundo da alma, você fica praticamente parado, se for um tecladista. Já a guitarra permite ao músico responder com mais intensidade, usando mais o corpo."
    Por sorte, os pais de Herbert aprovaram este precoce namoro. Aos 10 anos, Herbert ganhou do pai seu primeiro violão e aprendeu de ouvido a tocar alguns hits vigentes, como My Sweet Lord, de George Harrison e Amada Amante, de Roberto Carlos. Pouco mais tarde, um carpinteiro amigo da família fez, por encomenda do pai de Herbert, uma guitarra caseira, "na verdade um verdadeiro tronco", Novamente o sr. Vianna ajudaria a alimentar a carreira do Herbert-músico quando trouxe dos EUA uma guitarra. De verdade; uma Gibson. Curiosamente, Herbert, na época com 14 anos, estava mais interessado em aprender bossa nova no violão ("Eu só ouvia Tom Jobim. Outro dia destes até pedi um autógrafo a ele") do que tocar guitarra ou rock.
    Por influências de bandas que tocavam em sua quadra, em Brasília, Herbert acabou voltando ao rock. "Aí só ouvia Jeff Beck, Eric Clapton, Jimi Hendrix, John McLaughlin. Só comprava discos para ouvir o guitarrista." Quando se mudou para o Rio, aos 15 anos, Herbert não tinha amigos e ficava tardes inteiras trancado no quarto, plugando sua novíssima Gibson L6-S num amplificador Honner (obrigado, sr. Vianna). E foi aí que começou a mexer no instrumento; "Se você abrir a sua guitarra, desmontar tudo, ver como cada peça funciona, você vai entender melhor sua guitarra. Tem muita gente que acha que é só ligar o instrumento e sair tocando, mas se você mexer nela, vai poder enriquecer muito mais o seu conhecimento e a sua música".
    Depois de tanto fuçar, Herbert acabou optando por uma sonoridade de guitarra mais limpa. "Eu gosto das nuances da guitarra limpa. Você vê uma guitarra heavy metal, por exemplo, Se você for comparar os sons de diferentes guitarristas heavy vai ver que o som é basicamente sempre o mesmo. Os recursos - como pedais - que eu uso são usados para preencher mais espaço, não para mudar o timbre do instrumento."
    Se os guitarristas que influenciaram Herbert simbolizavam o cume da veneração da guitarra como instrumento de destaque no rock traduzida em longos (e muitas vezes tediosos) solos -, Herbert é agora um claro exemplar do guitarrista anos 80: econômico, contido, mais preocupado com ritmo e harmonia do que com solos ou melodia. "Dois terços das músicas (dos Paralamas) não têm solo", diz Herbert, "a gente cria mais climas com paradas e ecos de repetição do que com solos, Antigamente, nos anos 60/70, o solo era considerado a parte mais importante de um rock, era o destaque da banda. Mas acontece que naquela época surgiu uma geração de guitarristas excelentes, principalmente na Inglaterra. E isso não acontece todo dia. E foi da própria Inglaterra que partiu a desmistificação do guitarrista. Surgiu o punk, com bandas que não se interessavam em tocar extremamente bem, que se preocupavam mais em passar uma idéia. Hoje em dia, ninguém mais é o destaque. O destaque é o que a banda quer dizer."
    "Por isso eu digo que o Andy Summers é o Hendrix dos anos 80. A guitarra dos anos 60 teve a direção que o Hendrix deu e a guitarra dos anos 70 e 80 tem a direção que o Summers iniciou no Police; a guitarra como contracanto, fazendo cama para voz."
    "Hoje em dia", continua Herbert, "não me preocupo em ser o mais rápido e acho perfeita a definição que o Jeff Beck - que pra mim é o mestre do solo deu para o solo; o solo pega a melodia da música, leva ela pra dar uma voltinha lá lora, depois volta e devolve a melodia ao cantor. E só."

Ficha técnica

    De suas dez guitarras, Herbert prefere duas Fender Stratocaster (uma azul, outra a vermelha da séria especial The Strat. "Elas têm um corpo especial, de madeira pesada, e a eletrônica delas é toda nova."
    As outras duas favoritas são lbanez, de fabricação japonesa. "Só uso essas duas no estúdio, porque são muito complicadas para shows, têm muitos controles diferentes, enquanto outras guitarras funcionam apenas com uma chave de captadores e controles de volume e tonalidade. Essas lbanez também são diferentes por causa do braço de 24 trastes (quando o normal são 21)."
    "De uma forma geral, sempre prefiro o som Strato, aquele som do Summers e do Adrian Botew (do King Crimson)."
    Strato ou não, as guitarras de Herbert - ao vivo ou em estúdio - são ligadas a um compressor DBX (que aumenta o sinal de saída da guitarra e diminui os abismos existentes entre notas mais ou menos intensas), Um diqital delay Roland, mais um Ibanez HD-1.5~~ø. Essa nova aquisição acumula funções de harmonizem e chorus (para "dobrar" os desenhos musicais da guitarra e dar mais ressonância a essa "dobra", respectivamente) pitch control.
    Um pitch control serve para alterar a tona/idade de uma ou mais notas. Assim, quando Herbert toca um acorde, ele pode, ao mesmo tempo, conseguir, do pich control de seu HD- 1500, a terça, a quinta e a oitava de cada nota daquele acorde.
    Os pedala e as guitarras falam através de dois amplificadores Mesa Boogie (os mesmos usados por guitarristas como Keith Richards e Pele Townshend) e caixas Marshall.

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