Roberto Medina
A HORA E A VEZ DO CORETO ELETRÔNICO
Durante uma certa época, foi moda no Brasil construir estádios faraônicos em cidades carentes de quase tudo. Muitos deles não conseguiram jamais lotar completamente. Enquanto isso, o outro grande pólo da criatividade brasileira, a música popular, tem que se contentar até hoje com locais improvisados, sem um mínimo de infra-estrutura técnica e de condições acústicas para se expressar na plenitude.
Por experiência própria posso dizer que, quase tão difícil quanto trazer Frank Sinatra ao Brasil, foi equipar o Maracanã para um espetáculo digno do artista e das 140 mil pessoas que lá foram.
Foi por isso que, antes de sonhar com o Rock in Rio, eu tive que sonhar com a Cidade do Rock. Sem ela, jamais teria acontecido o maior show da história.
Um show que não foi só de música, mas também de paz, organização, profissionalismo. Construída em apenas cinco meses, sem um centavo pedido aos cofres públicos, a Cidade do Rock ergueu-se do nada para se tornar atração comentada no mundo inteiro. E depois se* destruída da maneira que se sabe. Mas uma coisa nenhuma prepotência ou mesquinharia pode destruir: o exemplo. Durante dez dias de música e magia, quase um milhão e meio de jovens vindos de toda a parte tiveram ali sua assembléia, sua praça, seu templo, seu lugar. E ali deram sua resposta à intolerância, ao preconceito e à incompreensão. Ao invés da baderna temida, uma inesquecível demonstração de ordem e paz. Em lugar da alucinação coletiva, uma comovente fraternização de pessoas unidas pela sensibilidade.
O exemplo não pode se perder. É preciso, é absolutamente preciso, que os jovens de todo o país mantenham viva esta chama e se mobilizem para exigir de seus governadores, de seus prefeitos, a abertura de um espaço para a música em cada comunidade. Ou melhor ainda: a reconquista de um espaço para a música, que esteja para a tecnologia e as exigências de hoje como estava o coreto para as cidadezinhas do passado. E importante lembrar que não havia cidade sem a praça da igreja. E não havia praça da igreja sem o coreto da banda.
Veio a explosão populacional, a concentração urbana, a megalópole. Veio a revolução da eletrônica. Estamos menos ingênuos, mais sofisticados, mas não ficamos mais sábios. Desaprendemos muito em matéria de convivência, de solidariedade, de comunhão em torno das mesmas emoções. Ficamos mais solitários. E é a solidão que traz a insegurança, a tristeza, a vontade de se atordoar por qualquer meio.
Construir um espaço para a música é criar um ponto de convergência para a juventude. E criar uma ponte sobre a solidão e afastar os fantasmas que sempre a acompanham.
Um novo Brasil está começando agora. Que nele se multipliquem os coretos eletrônicos.
Durante uma certa época, foi moda no Brasil construir estádios faraônicos em cidades carentes de quase tudo. Muitos deles não conseguiram jamais lotar completamente. Enquanto isso, o outro grande pólo da criatividade brasileira, a música popular, tem que se contentar até hoje com locais improvisados, sem um mínimo de infra-estrutura técnica e de condições acústicas para se expressar na plenitude.
Por experiência própria posso dizer que, quase tão difícil quanto trazer Frank Sinatra ao Brasil, foi equipar o Maracanã para um espetáculo digno do artista e das 140 mil pessoas que lá foram.
Foi por isso que, antes de sonhar com o Rock in Rio, eu tive que sonhar com a Cidade do Rock. Sem ela, jamais teria acontecido o maior show da história.
Um show que não foi só de música, mas também de paz, organização, profissionalismo. Construída em apenas cinco meses, sem um centavo pedido aos cofres públicos, a Cidade do Rock ergueu-se do nada para se tornar atração comentada no mundo inteiro. E depois se* destruída da maneira que se sabe. Mas uma coisa nenhuma prepotência ou mesquinharia pode destruir: o exemplo. Durante dez dias de música e magia, quase um milhão e meio de jovens vindos de toda a parte tiveram ali sua assembléia, sua praça, seu templo, seu lugar. E ali deram sua resposta à intolerância, ao preconceito e à incompreensão. Ao invés da baderna temida, uma inesquecível demonstração de ordem e paz. Em lugar da alucinação coletiva, uma comovente fraternização de pessoas unidas pela sensibilidade.
O exemplo não pode se perder. É preciso, é absolutamente preciso, que os jovens de todo o país mantenham viva esta chama e se mobilizem para exigir de seus governadores, de seus prefeitos, a abertura de um espaço para a música em cada comunidade. Ou melhor ainda: a reconquista de um espaço para a música, que esteja para a tecnologia e as exigências de hoje como estava o coreto para as cidadezinhas do passado. E importante lembrar que não havia cidade sem a praça da igreja. E não havia praça da igreja sem o coreto da banda.
Veio a explosão populacional, a concentração urbana, a megalópole. Veio a revolução da eletrônica. Estamos menos ingênuos, mais sofisticados, mas não ficamos mais sábios. Desaprendemos muito em matéria de convivência, de solidariedade, de comunhão em torno das mesmas emoções. Ficamos mais solitários. E é a solidão que traz a insegurança, a tristeza, a vontade de se atordoar por qualquer meio.
Construir um espaço para a música é criar um ponto de convergência para a juventude. E criar uma ponte sobre a solidão e afastar os fantasmas que sempre a acompanham.
Um novo Brasil está começando agora. Que nele se multipliquem os coretos eletrônicos.
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