1980´S MÚSICA, CINEMA, ESTILO, TECNOLOGIA
Uma produção conjunta de Ana Maria Bahiana (Dance Music); Bia Abramo (Cinema, Os Oitenta Discos dos anos 80); Celso Pucci (Os Sobreviventes do Rock, Os Oitenta Discos dos Anos 80); Fernando Naporano (Independentes); Hermano Vianna (World Music, Estilo); José Augusto Lemos (Dance Music, Tecnologia); José Emilio Rondeau (Tecnologia); José Geraldo Couto (Cinema, Cronologia); Leopoldo Rey (Cronologia); Lorena Calabria (Rock Brasil); Marcel Plasse (Cinema, Quadrinhos); Marcos Campolim (Metal); Marisa Adán Gil (Rock Brasil, Cronologia); Peter Price (Os Oitenta Discos dos Anos 80).
RAP
Uma coisa extraordinária aconteceu com o rap: contrariando todas as expectativas (inclusive as suas próprias), ele é um sucesso. Sucesso assim: execução em todas as rádios, discos passando da casa de um milhão de cópias. Sucesso de massa, do tipo que leva artistas à TV, que obriga a MTV a abrir um horário só para o gênero, que coloca fotografias em revistas de fofocas. Dez anos depois do lançamento daquele que todos - rappers e não rappers - reconhecem como o disco pioneiro do estilo, o "Rapper´s Delight" da Sugarhill Gang, a música canto-falada que era propriedade exclusiva dos bairros negros e mais pobres das grandes cidades americanas tornou-se aquilo que os especialistas em marketing mais prezam - um crossover, uma forma musical capaz de ser bem sucedida em qualquer praça, independente de cor ou renda pessoal.
O sucesso do rap nos anos derradeiros desta década é ainda mais extraordinário se compreendido à luz das peculiaridades - suas e da sociedade americana. "É fato consumado, por exemplo, que, mesmo com todas as vitórias civis dos anos 60 e 70, os EUA repelem instintivamente a integração racial, e preferem ver seu tecido social mais como uma prateleira de supermercado - coisas diferentes, lado a lado - que como um cadinho de fusões. Para que o rock, intrinsecamente negro, se tornasse o que é hoje foi preciso o endosso e o batismo por radialistas e gravadoras brancas, a reboque de figuras como Elvis, Jerry Lee Lewis, Buddy Holly - artistas brancos "aceitáveis" para o mercado de massa.
O rap, contudo, à exceção dos Beastie Boys - que foram vistos e tratados mais como uma curiosidade passageira que qualquer outra coisa - permanece como área exclusiva de artistas negros.
E mais: como o reggae (que ainda não conseguiu atravessar de fato para o veio principal dos EUA), o rap surgiu para ser, basicamente, uma forma de expressão e comunicação dentro de uma comunidade. Musicalmente, o estilo sempre foi carnívoro, canibalesco e inclemente, triturando sem a menor cerimônia qualquer coisa que lhe parecesse útil, inclusive e principalmente o rock branco dos anos 60 e 70 - que, naquele exato momento, tornava-se "clássico" e ganhava um duvidoso posto no sacrário das relíquias históricas - e não cedendo um milímetro às necessidades harmônicas e melódicas do senso comum white. No texto, o rap sempre falou criticamente, para iniciados, para a sua tribo (ver box anexo): seus assuntos são coisas remotas para os meninos brancos da "grande" suburbiolândia americana que gosta de comprar discos: drogas, discriminação, batidas policiais, tiroteios, escuros horizontes profissionais - sua fala era puro lingo, código, jive, incompreensível, propositalmente, para os periféricos.
E mais: com o crescimento, em tamanho, poder e violência, das gangues negras - que, nos anos 80, se profissionalizaram na esteira da disseminação do crack -, o rap celebrou mais uma duvidosa aliança - passou a ser não apenas "música de negro", mas "música de gangues".
E no entanto...
Apontar como explicação apenas a imensa maré de tédio musical que se abate sobre o mercado musical do "primeiro mundo" não satisfaz. A própria insolência antimelódica do rap já seria causa suficiente para o seu sucesso numa praça enfadada com o passado e disposta a detonações pós-modernas.
A grande explicação só pode estar no próprio rap. Velocíssimo camaleão e voraz triturador, o estilo conseguiu se multiplicar em subcamadas suficientes para atender todas as expectativas - e, ainda, manter-se uno, diferenciado.
Assim, temos hoje o que se poderia chamar "rap de raiz", que vem, em linha direta, do histórico "The Message" de Grandmaster Flash e se encarna em crônicas cada vez mais pesadas - em termos de som - e violentas - no texto - da vida no gueto. Public Enemy em Nova York e Ice T em Los Angeles são as grandes vozes, mas a cada dia novos nomes engrossam as fileiras - como a dupla de Los Angeles que atende pelo nome de N.W.A. (ou seja, Niggers with Attitude", algo como "Crioulos Malcriados" e que, sem a menor cerimônia, faz polaróides sem retoques da vida dentro das gangues em seu álbum de estréia, Straight Outta Compton (Compton é um dos bairros negros mais pobres e violentos de Los Angeles) - e que já vendeu 500 mil cópias em menos de um mês, com distribuição totalmente independente.
Para a cada vez maior e mais influente classe média negra, que quer distância física, emocional e cultural do gueto, existem alternativas: o rap engraçadinho de DJ Jazzy Jeff + The Fresh Prince, da Filadélfia, que fala dos mesmos dramas juvenis que deram a imortalidade a Chuck Berry - carros, garotas, escola - ou as bravatas sexuais do angeleno Tone Loc, que vem dos subúrbios classe média do vale de San Fernando, e foi o primeiro rapper a ocupar o primeiro posto nas paradas, com sua versão risquê para o Hit sixties "Wild Thing". Escusado dizer que tanto Jazzy Jeff/Fresh Prince quanto Tone são populares em qualquer grupo étnico, e estão no comando da operação crossover, que está levando o rap a suas outras freguesias.
Finalmente, há o público informado das universidades que, de Bob Dylan a R.E.M. sempre foi motor de mudanças no pop americano. Para as rádios college que acham Public Enemy muito extremo, existe o rap melodioso de um Shinehead, por exemplo, que, ao mixar o estilo com o reggae de sua Jamaica natal, retomou uma das matrizes formadoras do rap, o toast jamaicano. Ou ainda a trinca De La Soul, que vem do ultra-classe média subúrbio de Amityville, Long Island, tem nomes psico-crípticos como Trugoy (Yogurt ao contrário), Pase master Mase e Posdnuos, idade média de dezoito anos e faz a mais ousada e incandescente mistura de rap e psicodelismo já ouvida do lado de cá de Sly Stone e George Clinton.
Assim, ao se permitir estas discretas mas substanciais diversões de curso, o rap garantiu para si mesmo uma longevidade e um alcance que nem seus defensores mais otimistas poderiam imaginar. Insolente, desrespeitoso com a sagrada institucionalização do pop, versátil, mutável, imediato, prático, portátil, acessível a qualquer um com um microfone, um toca-discos e um mínimo de criatividade, o rap, ironicamente, vem colher, por outras vias e uma década depois, as promessas do punk - faça você mesmo a sua trilha sonora.
Microdicionário
É claro que você não entende nem metade do que os rappers dizem/cantam: essa é parte da idéia. Como toda subcultura, o rap tem seu código verbal próprio, desenvolvido pelos próprios DJ, e rappers ou tomado emprestado das ruas e guetos, com o mesmo objetivo de toda subcultura: tornar-se impermeável aos forasteiros e selar alianças internas.
Estas palavras e expressões já são clássicas, e algumas, na esteira do próprio rap, já vazaram para o inglês moderno de uso corrente.
Chill
Também usado nas expressões "Chill in" e "Chill Out" - dar um tempo, ficar frio, ficar na sua.
Cuz
O mesmo que "like" para o garotão branco - interjeição que não quer dizer nada, apenas serve para pontuar a frase, dar um certo ritmo à fala.
Posse
Turma, pessoal. No universo das gangues, uma "posse" ou "set" é uma subdivisão das duas grandes facções, Crips e Bloods, e representa alianças de bairro ou de quarteirão.
Homeboy/Homegirl
Amigo, companheiro, colega de bairro. A rigor, a palavra define o membro de uma gangue, mas já passou a ser usada de um modo mais amplo. Sinônimo: Dude.
Dope
Ótimo, excelente, genial.
McGyver
Coisa dificílima de fazer, missão impossível.
Crib
Literalmente "berço". Casa, cantinho.
Crew
O mesmo que "posse", mas no sentido de turma para fazer alguma coisa juntos.
Sucker
Pessoa por fora, otário, careta, idiotas em geral.
Rope
Literalmente "corda". Colar grosso de ouro que os rappers e seus fãs adoram usar.
Diss
Prejudicar, atrapalhar.
Jam
O próprio rap, ou melhor, a fusão de palavras + mixagem sonora.
DANCE MUSIC
A década em que o som dos bumbos veio à frente das mixagens junto com as mais graves freqüências de baixo sintetizado: o groove, a levada rítmica, imperou suprema e a pista de dança tornou-se santuário e sacramento de toda uma geração - do hip hop à house music, a música negra ocupou seu lugar de direito depois de décadas de saque e pilhagem por atravessadores brancos
Vidro quebrado por toda parte, gente mijando nas escadas / Você sabe, eles não estão nem aí / Eu não suporto o cheiro, eu não suporto o barulho / Não tenho dinheiro para me mudar, acho que não tenho escolha / Ratos na sala da frente, baratas na sala dos fundos / Viciados no beco com um taco de beisebol..."
Assim rappeava Grandmaster Flash, à frente de seus Furious Five, dando o tom realista das ruas do South Bronx, em Nova York, em "The Message", um compacto que marcou ano de 81.
O rap nasceu praticamente em 79, quando a Sugarhill Gang chupou a levada de "Good Times", do Chic, para fazer "Rapper´s Delight" - dois milhões de cópias vendidas. Poucos meses depois, era a vez de Kurtis Blow - inaugurando a tagarelice na linha "eu sou o maior" -, com "Christmas Rapping". Um novo estilo estava criado.
Mas quando o canto falado gera o chamado hip hop com sua explosão rítmica e eletrônica? Os pais da matéria são Afrika Bambaataa e o produtor Arthur Baker, que, em 82, surrupiam a melodia de "Trans-Europe Express", do Kraftwerk, como base para um rap propondo total integração/comunhão de todos os povos, etnias, tribos e credos da Terra. "Planet Rock", o compacto em questão, vendeu mais de 600 mil cópias só no formato doze polegadas e é, sem dúvida, a cristalização do gênero que botaria a garotada break dancing pelas ruas dos grandes centros urbanos.
Em 83, era a vez do Run DMC, com "Sucker MCs", e, através da agregação dos hip-hoppers nova-iorquinos em torno do produtor Rickie Rubin e seu selo Def Jam, o mapeamento da música pop incorporava um novo gênero, pisando na fronteira imprecisa entre rap, hip hop, e go-go de Washington (tendo à frente o Trouble Funk), todas as variantes entre o casamento da sensibilidade "ritmológica" com a nova tecnologia musical.
Warehouse Club, Chicago. Sua abreviação batiza a house music - uma das últimas mutações do funk eletrônico nos 80 e a mais radical, por sua ênfase em ritmo puro, o som do bumbo e o som da caixa, e as intervenções sonoras. O groove em sua essência, sem necessidade de uma canção. A dança pela dança, produção de proveta dentro de um estúdio: o produtor assume não só os controles como os créditos e a concepção. Manipulação e colagem, com grande débito à discothèque dos anos 70. Quando o duo local Phuture lançou seu LP Acid Trax - outros afirmam que a fonte é a expressão acid burnin´ para a chupação de músicas alheias via sampler -, estava dado o primeiro passo para o que os lançadores de modas londrinos carimbassem Aciiid!, uma volta à movimentação coletiva numa neopsicodelia de estampas multicoloridas, bandanas e o bonequinho Smiley. A febre duro um verão - o de 88 - e produziu algumas preciosidades locais, como o Bomb the Bass, de Tim Simenon. Hoje é difícil que alguma canção escolhida para ser editada em compacto não tenha sua mixagem acid.
Enquanto isso, os produtores reagem ao desgaste e à pasteurização com o Deep House, trazendo seus tecnomantras mais próximos da canção, com estrofes e refrão. Segundo a Face, o gênero já conta com um clássico: "Someday", de Ce Ce Roger.
A década em que o som dos bumbos veio à frente das mixagens junto com as mais graves freqüências de baixo sintetizado: o groove, a levada rítmica, imperou suprema e a pista de dança tornou-se santuário e sacramento de toda uma geração - do hip hop à house music, a música negra ocupou seu lugar de direito depois de décadas de saque e pilhagem por atravessadores brancos
Vidro quebrado por toda parte, gente mijando nas escadas / Você sabe, eles não estão nem aí / Eu não suporto o cheiro, eu não suporto o barulho / Não tenho dinheiro para me mudar, acho que não tenho escolha / Ratos na sala da frente, baratas na sala dos fundos / Viciados no beco com um taco de beisebol..."
Assim rappeava Grandmaster Flash, à frente de seus Furious Five, dando o tom realista das ruas do South Bronx, em Nova York, em "The Message", um compacto que marcou ano de 81.
O rap nasceu praticamente em 79, quando a Sugarhill Gang chupou a levada de "Good Times", do Chic, para fazer "Rapper´s Delight" - dois milhões de cópias vendidas. Poucos meses depois, era a vez de Kurtis Blow - inaugurando a tagarelice na linha "eu sou o maior" -, com "Christmas Rapping". Um novo estilo estava criado.
Mas quando o canto falado gera o chamado hip hop com sua explosão rítmica e eletrônica? Os pais da matéria são Afrika Bambaataa e o produtor Arthur Baker, que, em 82, surrupiam a melodia de "Trans-Europe Express", do Kraftwerk, como base para um rap propondo total integração/comunhão de todos os povos, etnias, tribos e credos da Terra. "Planet Rock", o compacto em questão, vendeu mais de 600 mil cópias só no formato doze polegadas e é, sem dúvida, a cristalização do gênero que botaria a garotada break dancing pelas ruas dos grandes centros urbanos.
Em 83, era a vez do Run DMC, com "Sucker MCs", e, através da agregação dos hip-hoppers nova-iorquinos em torno do produtor Rickie Rubin e seu selo Def Jam, o mapeamento da música pop incorporava um novo gênero, pisando na fronteira imprecisa entre rap, hip hop, e go-go de Washington (tendo à frente o Trouble Funk), todas as variantes entre o casamento da sensibilidade "ritmológica" com a nova tecnologia musical.
Warehouse Club, Chicago. Sua abreviação batiza a house music - uma das últimas mutações do funk eletrônico nos 80 e a mais radical, por sua ênfase em ritmo puro, o som do bumbo e o som da caixa, e as intervenções sonoras. O groove em sua essência, sem necessidade de uma canção. A dança pela dança, produção de proveta dentro de um estúdio: o produtor assume não só os controles como os créditos e a concepção. Manipulação e colagem, com grande débito à discothèque dos anos 70. Quando o duo local Phuture lançou seu LP Acid Trax - outros afirmam que a fonte é a expressão acid burnin´ para a chupação de músicas alheias via sampler -, estava dado o primeiro passo para o que os lançadores de modas londrinos carimbassem Aciiid!, uma volta à movimentação coletiva numa neopsicodelia de estampas multicoloridas, bandanas e o bonequinho Smiley. A febre duro um verão - o de 88 - e produziu algumas preciosidades locais, como o Bomb the Bass, de Tim Simenon. Hoje é difícil que alguma canção escolhida para ser editada em compacto não tenha sua mixagem acid.
Enquanto isso, os produtores reagem ao desgaste e à pasteurização com o Deep House, trazendo seus tecnomantras mais próximos da canção, com estrofes e refrão. Segundo a Face, o gênero já conta com um clássico: "Someday", de Ce Ce Roger.
Os dez compactos racha-assoalho
"Kiss", Prince
A música dos 80, fato confirmado por ter gerado já duas regravações: a primeira, mais hard e guitarreira, com o Age of Chance, e a segunda - mais bem-sucedida comercialmente, ressuscitando o vocal "clássico-canastra" de Tom Jones embalado com toda a elegante sofisticação hi-tech do Art of Noise. Mas, como sempre, o original é imbatível: uma profusão de guitarras rítmicas, desdobrando um riff infeccioso, cantos e contra cantos do mestre se divertindo a valer em cima de uma letra sacana, inteligente, perfeita. "You don´t have to be beautiful..."
"Sexual Healing", Marvm Gaye
Programação rítmica quase humana de tão sinuosa, um riff de guitarra sinuoso como uma serpente e a mais doce voz da soul music. Assim como "Kiss", uma grande canção de amor que é também um grande estímulo dançante. O destino quis que se tornasse o réquiem de um gênio do pop.
"Planet Rock", Afrika Bambaata & The Soul Sonic Force
Hip hop no berço, mamando na finesse melódica-eletrônica do Kraftwerk e gerando transes coletivos sob seu groove seco e sintético, numa explosão que justifica um dos maiores clichês da década: "pop tribal".
"Genius of Love", Tom Tom Club
O casal-cozinha dos Talking Heads, Chris Frantz e Tina Weymouth, em férias no Caribe com um punhado de convidados pega o rap ainda embrionário (entre 80 e 81) e faz uma suave declaração de amor à música negra, citando Bob Marley, Bohannon, Sly & Robbie, Kurtis Blow e, é claro, James Brown (a edição brasileira do compacto trazia na capa: "Melô do James Brown"). Em seu primeiro LP, o próprio Grandmaster Flash a utilizaria como base para um de seus raps. Logo na seqüência, lançavam "Wordy Rappinghood" - a mesma perfeição rítmica-melódica-singela - e, juntos, os dois compactos venderam muito mais que tudo que os Talking Heads haviam lançado até então.
"The Message", Grandmaster Flash & The Furious Five
O rap como retrato da vida no gueto, cru, nu, duro, seco. Não teve, nas paradas americanas, o mesmo sucesso de "Rapper´s Delight" da Sugarhill Gang, mas foi votado "melhor compacto de 81" por todos os críticos da Inglaterra, viciando irreversivelmente a ilha da Donzela de Ferro no novo som dos 80.
"Tour de France", Kraftwerk
Os legítimos pais do tecnopop não poderiam ficar de fora e quebraram uma de suas hibernações para surgir com esta preciosidade de hipnose melódica, o seqüenciador com um coração lânguido. Inspirados na maratona ciclística que anualmente percorre a Europa ("Trans-Europe Express II"?), presentearam produtores de TV do mundo inteiro com um fundo sonoro ideal para tomadas em movimento.
"Blue Monday", New Order
Quase simultânea ao LP Power Corruption Lies, esta canção - verdadeira locomotiva rítmica, identificável pelas primeiras socadas do bumbo - bateu até recordes de vendagem: é o comparto de doze polegadas mais vendido na Grã-Bretanha até hoje. Com sua síntese Kraftwerk / Eurodisco, livrou finalmente a banda do estigma Jov Division e chegou a influenciar a house music de Chicago e, por extensão, a acid house.
"Walk This Way", Run DMC
A partir do original do Aerosmith, o Run DMC sintetizou o cruzamento branco-metálico com negro-rap´n´hop que influenciou meio mundo, dos Beastie Boys a grupos de heavy propriamente ditos. Um dos sons mais pesados que já se ouviu e dançou na face do planeta.
"Relax", Frankie Goes to Hollywood
O selo ZTT fabricou a imagem, reciclagem debochada do disco gay; o produtor Trevor Horn sampleou o bumbo de John Bonham em Led Zeppelin II e fez cascatas sintetizadas simulando uma ejaculação estereofônica para um refrão muito sutil - "Relaxe! Não faça isso quando quiser gozar" - e a BBC vetou em sua programação, enquanto o compacto pulava para o primeiro posto das paradas. No fim, "Relax" rendeu até uma divertida ponta para o grupo no Dublê de Corpo, de Brian De Palma.
"Pump Up The Volume", M/A/R/R/S
A colagem desenfreada desencadeando processos judiciários e gerando a acid house britânica. O sampler, misto de gravador digital com instrumento musical, se consagrava definitivamente como a arma mortífera (nas pistas de dança) número um da década. Seu estouro mundial entupiu os cofres do 4AD, selo independente inglês que até então era mais conhecido pelos sobretons gótico-etéreos de grupos como Bauhaus e Cocteau Twins.
WORLD MUSIC
Lançado em 1980, My Life in the Bush of Ghosts - colagem de "vozes encontradas" com ritmos africanos e do terceiro mundo em geral, realizada por David Byrne e Brian Eno - pode ser considerado uma verdadeira abertura para o interesse do pop do primeiro mundo na musica do resto do globo. Daí para a frente, o interesse virou obsessão e ganhou uma etiqueta para definir a nova faixa de mercado: "musica do mundo", ou...
Global Pop. Sono Mondiale? Pouco importa. Qualquer terráqueo sabe que, nos anos 80, a tendência musical mais interessante é aquela que mistura todas as tendências, todas as tradições, utilizando os mais avançados recursos tecnológicos. Vivemos na era da arte sem fronteiras: cada povo faz o que pode e nada é propriedade de lugar nenhum.
No primeiro mundo, os compositores pós-tudo pilham o passado/presente cultural da humanidade sem o menor escrúpulo. No terceiro mundo, músicos dos mais variados países eletrificam seus ritmos tradicionais a base de rock e funk. Os dois mundos se encontram na exploração de estúdios digitalizados e de instrumentos piratas, como o sampler. Ninguém precisa mais ter "raiz" para tocar determinada música, basta comprar o software certo. A informática finalmente resolveu nossos problemas de identidade. Para a alegria geral de todas as tribos, o planeta já inventou uma nova geografia.
JAPÃO
Grupos de chorinho, grupos de rumba zairense, grupos no-wave. O Japão tem de tudo, até música japonesa. Estilos para a próxima década: o dub-zen do Mute Beat, a simpática geléia-geral de Seigan Ono e, é claro, os milhões de computadores-compositores.
FILIPINAS
A queda do ditador Ferdinand Marcos coincidiu com o nascimento da new filipino music. Trata-se do pós-punk inglês transportado para o sudeste da Ásia. Principais bandas: Dean´s December, Violent Playground e Identity Crisis. Atenção ainda para o reggae malaio do Integrated Circuit. Dizem que os filipinos são os jamaicanos do Pacífico.
INDONÉSIA
Vários estilos pop competem pelos primeiros lugares no hit-parade indonésio. O kroncong tem influências dos colonos portugueses que moravam em Java. O dangdut é basicamente indiano. O "pop" é descaradamente ocidental. O jaipong moderniza a poliritmia dos gamelões. Nomes: Rhoma Irama (dangdut) e Idjah Hadidjah (jaipong).
CHINA
Quem diria! A revolução cultural é hoje uma remota lembrança do passado. A garotada ex-maoísta só quer saber de rock imperialista. Novos líderes espirituais: Zhang Quiang, 20 anos, vendeu mais de quinhentas mil cópias de cada um dos sete cassetes que já lançou. Zhang Xing, 26 anos, não tem mais permissão governamental para cantar depois que engravidou duas tietes. O som que causa tanta comoção é somente sub-jovem-guarda, mas os chineses gostam.
TAILÂNDIA
Num país onde até o Rei Rama IX ouve música norte-americana, a juventude não pode ser muito tradicionalista. Mesmo assim os tailandeses exageram: o luk tung, o mais popular estilo do pop thai, é um absurdo de cafonice ocidentalizante. As melhores bandas, como a do cantor Surachai Sumbatcharon, excursionam pelo país com uma média de vinte músicos e cinqüenta dançarinas. Las Vegas nunca foi tão ousada.
ÍNDIA
No leste, perto de Calcutá, quem manda é o pop cantado em punjab. Foi daí que surgiu a bhangra, música dos imigrantes indianos que vivem na Inglaterra - as maiores bandas são: Alaap, Heera e Joi Bangllan, esta última responsável pela mixagem bhangra/house. No oeste, fica situada a Hollywood indiana, Bombaim, uma indústria cinematogrática milionária que também produz discos com trilhas sonoras, campeões de vendagem em toda a Ásia.
PAQUISTÃO
A música paquistanesa mixa ritmos árabes e ritmos hindus. Sua maior estrela é Nusrat Fateh Ali Khan, cantor sufi que se apresenta acompanhado apenas do mestre do ghazal, improviso melódico feito sobre poemas de amor escritos na língua urdu. Esta tradição musical está sendo eletrificada por uma cantora indiano-inglesa, a estonteante Najma Akthar.
ESPANHA
A inesperada popularidade transatlântica do grupo francês Gipsy Kings fez o flamenco voltar à moda. A Espanha pós-Franco também viu o renascimento da antiga música cigana. Provas? O estrondoso sucesso de El Camaron de la Isla, o flamenco-punk dos Pata Negra, as estripulias da cantora Martirio e o encontro entre o tradicional Juan Pena Lebrijano com a magnífica Orquestra Andalusa de Tanger.
UNIÃO SOVIÉTICA
Gorbachev fez o mundo descobrir o rock soviético. A garotada da glasnost até que se esforça para recuperar o tempo perdido. E toca de tudo: ska, heavy, funk, rock anos 50. O pessoal mais interessante vem de Leningrado. Sob o nome Pop Mechanica, poetas, músicos, artistas plásticos e estilistas de moda pregam "a volta à euforia dos tempos da Revolução de 1917".
ARGÉLIA
OS argelinos produziram a primeira música elétrica do mundo árabe, o räi. Contrariando os mandamentos de Alá, os chebs (jovens) de Oran cantam a bebida, a orgia e os automóveis. Cheb Khaled, o maior ídolo do räi, já foi produzido por Martin Meissonnier, mago digital francês. A conquista do planeta é iminente.
NIGÉRIA
Juju, afro-beat, fuji: todas essas músicas foram criadas no caos urbano de Lagos. Como se não bastassem tantos ritmos nativos, os nigerianos vivem hoje uma moda reggae. Majek Fashek, rasta de 25 anos, produz e toca todos os instrumentos em seus discos. É o Prince africano.
ZAIRE
A rumba zairense comanda as paradas de sucesso africanas desde os anos 50. Primeiro apareceram as orquestras de Tabu Ley e Franco. Depois foi o regime "baixo, guitarra e bateria" imposto pelo Zaiko Langa Langa e por Papa Wemba. Hoje, Emeneya criou a rumba eletrônica e se transformou no maior ídolo da elegantérrima tribo boêmia de Kinshasa.
ETIÓPIA
Os etíopes misturam as músicas árabe, africana e indonésia com o jazz rock. O resultado parece Fella Kuti em transe dervixe. Mahamoud Ahmed é o principal cantor de Adis-Abeba. Newey Debebe é o seu sucessor, tanto no malabarismo vocal quanto na maestria da cuskeusta, uma dança epilética feita principalmente com os ombros.
ANTILHAS FRANCESAS
Nas pequenas ilhas de Martinica e de Guadelupe surgiu o ritmo afro-caribenho mais popular dos anos 80, o zouk. Seus, inventores, a banda Kassav´, já lotavam estádios em toda a África antes de serem descobertos pela imprensa "ocidental" e pela gravadora CBS. Prova que o estrelato intercontinental não depende necessariamente da "ajuda" do primeiro mundo.
COLÔMBIA
De um lado, perto da praia e da cidade de Cartagena, existe a cúmbia, ritmo saltitante-caribenho adorado em toda América do Sul e Central. Do outro, nas montanhas do noroeste, tem o vallenato, um parente do forrÓ que se tornou nacionalmente conhecido por ser a música preferida dos traficantes de drogas colombianos.
BRASIL
Samba-reggae, rock, forró, frevo, lambada, sertanejo, carimbó, ciranda, bumba-meu-boi, hip-hop, pagode, gurânia, choro, jazz, repente, hardcore, ijexá, bossa nova, côco, jonjo, embolada, heavy e Beleza Tropical.
EUA/GB
A música anglo-saxã transformou o mundo num shopping-center cultural. Brian Eno, David Byrne, Jon Hassell, Peter Gabriel, Paul Simon e Malcolm McLaren já lançaram seus manifestos quarto-mundistas juntando ritmos e melodias de vários continentes. Nem sempre a mixagem dá certo: às vezes tudo vira uma procura culpada de "autenticidade" (como se isso ainda existisse). Vale mais o bom humor da house ou do hip hop, músicas descaradamente piratas, onde se pode até "arranhar" o disco dos outros.
SOBREVIVENTES DO ROCK
Guitarras, vocal, baixo e bateria: um corpo perfeito para abrigar a alma do mais puro rock´n´roll ou apenas uma carcaça ressequida condenada a ser mais um modelo musical obsoleto pela invasão dos samplers e seqüenciadores? Neste balanço da década que se encerra, a síntese dos caminhos que a velha tradição tomou durante os anos 80
Uma fórmula aparentemente gasta, já utilizada até a exaustão, mas que nas mãos certas toma o corte de um fio de navalha. Esta foi, durante os dez anos passados, a postura dos "sobreviventes", grupos que conseguiram injetar sangue novo em um conceito sonoro que, depois de voltas e reviravoltas dentro do circo do rock, parecia não ter nada de sedutor a apresentar. Afinal, já se somam quase quatro décadas desde sua criação, a partir do blues e do rhythm´n´blues, passando pelo seu apogeu durante os anos 60 - até hoje grande fonte de inspiração de inúmeras bandas - e sua conseqüente diluição com o capto de sereia do rock progressivo e heavy metal (salvo honrosas exceções) durante a década de 70, até o seu posterior resgate promovido pelo punk. E a Santíssima Trindade formada por guitarra/baixo/bateria ainda encontrou energia para se afirmar nos anos 80 como uma tendência primordial do som contemporâneo. Isto em meio a um contexto pop multifacetado característico da década, que engloba desde o advento do rap e do tecnopop até o acid, a house music e o chamado rock industrial, estilos bem diversos entre si, mas com ao menos um ponto em comum: recusam-se a utilizar a instrumentação tradicional do rock. Mas é inegável que, justamente apegada a esta tradição, surgiu uma boa parte dos sons mais instigantes criados durante os anos 80. E, pelo ouvido, os 90 prometem...
U2, R.E.M., THE SMITHS: O ROCK NO TOPO
A base comum entre eles foi possuírem vocalistas carismáticos, guitarristas com um estilo personalíssimo e cozinhas perfeitamente integradas e eficientes que, em conjunto - cada qual à sua maneira -, deram uma nova dimensão ao rock dos anos 80. Assim foi com os irlandeses do U2 que têm à frente os vocais dramáticos e pungentes de Bono Vox e as intervenções econômicas dos acordes e arpejos da guitarra de Dave "The Edge" Evans. Eles partiram de sensação do circuito independente de Dublin para o primeiro LP (Boy, 1980), dando início a uma triunfal carreira que incorporaria a sofisticação musical (nos LPs The Unforgettable Fire e The Joshua Tree, co-produzidos por Brian Eno) e consolidaria o superestrelato da banda com o álbum/filme/livro Rattle and Hum. Esta extraordinária seqüência de sucessos comerciais transformou-o em um grupo capaz de lotar estádios e grandes arenas, a exemplo dos medalhões egressos do rock das duas décadas anteriores, e fez do U2 uma das bandas mais aclamadas dos anos 80.
Do lado americano, vindo diretamente de Athens, Georgia, o R.E.M., no crepúsculo desta década, ameaça seguir trajetória semelhante depois de assinar com uma grande gravadora (Warner) e está se apresentando para audiências cada vez maiores. Aqui também, apesar do crédito coletivo imputado a todas as canções do grupo, as atenções maiores sempre recaíram sobre os vocais melódicos e os devaneios poéticos de Michael Stipe e a erudição "musical" (note bem, não técnica) de Peter Buck, capaz de sintetizar na simplicidade de sua guitarra, três décadas de rock´n´roll. Passada a fase de "sensação da crítica" e a duradoura associação com o selo independente I.R.S., o R.E.M. prepara-se para invadir maiores territórios. "Welcome to the Occupation...".
Por outro lado, na cidade inglesa de Manchester, que no fim da década 70 viu nascer o Joy Division, surgiu um dos grupos seminais do pop dos anos 80: The Smiths. Tendo como eixo principal as brilhantes melodias e a sutileza instrumental do guitarrista Johnny Marr, aliadas às letras confessionais e os vocais angustiados de Stephen Morrissey, o grupo - a exemplo do R.E.M. também ligado a um selo independente (no caso, o Rough Trade) - conseguiu durante a sua efêmera existência de menos de quatro anos produzir um imenso leque de canções memoráveis em sete álbuns (fora um póstumo ao vivo), e vários singles, deixando assim marcas definitivas no pop da década, com extrema inteligência e sensibilidade.
O SOM DOS SUBTERRÂNEOS
Em matéria de tendências underground pode-se dividir as bandas surgidas nos anos 80 em dois grandes grupos: o neo-psicodelismo inglês e o novo rock americano. No primeiro, a influência essencial da década de 60 foi luxuosamente embalada por requintadas gravações repletas de avanços tecnológicos, a cargo de nomes como Modern English, March Violets, Danse Society, Flowerpot Men e Julian Cope e outros grupos que flertaram com nuances psicodélicas (Cult, Siouxsie and the Banshees). Em fins de 1984 a onda voltaria a sobrevoar a Inglaterra, através do Dream Academy, Strawberry Switchblade e This Mortal Coil, para reaparecer em 1987/88 representada pelo Loop, Perfect Disaster e Spacemen 3, com as guitarras exercendo papel primordial.
Quanto ao novo rock americano, o que mais se verificou nos anos 80 foram grupos que procuraram retomar as raízes essenciais do rock´n´roll, reinventando-as em formatos idiossincráticos e dispensando os artifícios tecnológicos. Nesta corrente situaram-se o rockabilly (Stray Cats, Robert Gordon), o trashbilly (Joe King Carrasco) e o pshycobilly (Cramps) e, em termos de revival, pelo menos mais três tópicos importantes: as neo-garage bands (Pylon, Pandoras, Lyres), os neo-psicodélicos americanos (Plasticland, Fuzztones, Vipers) e o neo-country, seja associado ao rock (Translator, Let´s Active, Violent Femmes, Beat Farmers) ou em sua forma mais purista (Dwight Yoakam). Entre os movimentos marcantes destacaram-se o Paisley Underground (espécie de cooperativa das bandas independentes de L.A.) e as guitar bands (Sonic Youth, Dinosaur Jr., Band of Susans) que, empunhando as suas guitarras de forma inovadora em primeiro plano, deram um novo enfoque ao instrumento dentro do rock.
Guitarras, vocal, baixo e bateria: um corpo perfeito para abrigar a alma do mais puro rock´n´roll ou apenas uma carcaça ressequida condenada a ser mais um modelo musical obsoleto pela invasão dos samplers e seqüenciadores? Neste balanço da década que se encerra, a síntese dos caminhos que a velha tradição tomou durante os anos 80
Uma fórmula aparentemente gasta, já utilizada até a exaustão, mas que nas mãos certas toma o corte de um fio de navalha. Esta foi, durante os dez anos passados, a postura dos "sobreviventes", grupos que conseguiram injetar sangue novo em um conceito sonoro que, depois de voltas e reviravoltas dentro do circo do rock, parecia não ter nada de sedutor a apresentar. Afinal, já se somam quase quatro décadas desde sua criação, a partir do blues e do rhythm´n´blues, passando pelo seu apogeu durante os anos 60 - até hoje grande fonte de inspiração de inúmeras bandas - e sua conseqüente diluição com o capto de sereia do rock progressivo e heavy metal (salvo honrosas exceções) durante a década de 70, até o seu posterior resgate promovido pelo punk. E a Santíssima Trindade formada por guitarra/baixo/bateria ainda encontrou energia para se afirmar nos anos 80 como uma tendência primordial do som contemporâneo. Isto em meio a um contexto pop multifacetado característico da década, que engloba desde o advento do rap e do tecnopop até o acid, a house music e o chamado rock industrial, estilos bem diversos entre si, mas com ao menos um ponto em comum: recusam-se a utilizar a instrumentação tradicional do rock. Mas é inegável que, justamente apegada a esta tradição, surgiu uma boa parte dos sons mais instigantes criados durante os anos 80. E, pelo ouvido, os 90 prometem...
U2, R.E.M., THE SMITHS: O ROCK NO TOPO
A base comum entre eles foi possuírem vocalistas carismáticos, guitarristas com um estilo personalíssimo e cozinhas perfeitamente integradas e eficientes que, em conjunto - cada qual à sua maneira -, deram uma nova dimensão ao rock dos anos 80. Assim foi com os irlandeses do U2 que têm à frente os vocais dramáticos e pungentes de Bono Vox e as intervenções econômicas dos acordes e arpejos da guitarra de Dave "The Edge" Evans. Eles partiram de sensação do circuito independente de Dublin para o primeiro LP (Boy, 1980), dando início a uma triunfal carreira que incorporaria a sofisticação musical (nos LPs The Unforgettable Fire e The Joshua Tree, co-produzidos por Brian Eno) e consolidaria o superestrelato da banda com o álbum/filme/livro Rattle and Hum. Esta extraordinária seqüência de sucessos comerciais transformou-o em um grupo capaz de lotar estádios e grandes arenas, a exemplo dos medalhões egressos do rock das duas décadas anteriores, e fez do U2 uma das bandas mais aclamadas dos anos 80.
Do lado americano, vindo diretamente de Athens, Georgia, o R.E.M., no crepúsculo desta década, ameaça seguir trajetória semelhante depois de assinar com uma grande gravadora (Warner) e está se apresentando para audiências cada vez maiores. Aqui também, apesar do crédito coletivo imputado a todas as canções do grupo, as atenções maiores sempre recaíram sobre os vocais melódicos e os devaneios poéticos de Michael Stipe e a erudição "musical" (note bem, não técnica) de Peter Buck, capaz de sintetizar na simplicidade de sua guitarra, três décadas de rock´n´roll. Passada a fase de "sensação da crítica" e a duradoura associação com o selo independente I.R.S., o R.E.M. prepara-se para invadir maiores territórios. "Welcome to the Occupation...".
Por outro lado, na cidade inglesa de Manchester, que no fim da década 70 viu nascer o Joy Division, surgiu um dos grupos seminais do pop dos anos 80: The Smiths. Tendo como eixo principal as brilhantes melodias e a sutileza instrumental do guitarrista Johnny Marr, aliadas às letras confessionais e os vocais angustiados de Stephen Morrissey, o grupo - a exemplo do R.E.M. também ligado a um selo independente (no caso, o Rough Trade) - conseguiu durante a sua efêmera existência de menos de quatro anos produzir um imenso leque de canções memoráveis em sete álbuns (fora um póstumo ao vivo), e vários singles, deixando assim marcas definitivas no pop da década, com extrema inteligência e sensibilidade.
O SOM DOS SUBTERRÂNEOS
Em matéria de tendências underground pode-se dividir as bandas surgidas nos anos 80 em dois grandes grupos: o neo-psicodelismo inglês e o novo rock americano. No primeiro, a influência essencial da década de 60 foi luxuosamente embalada por requintadas gravações repletas de avanços tecnológicos, a cargo de nomes como Modern English, March Violets, Danse Society, Flowerpot Men e Julian Cope e outros grupos que flertaram com nuances psicodélicas (Cult, Siouxsie and the Banshees). Em fins de 1984 a onda voltaria a sobrevoar a Inglaterra, através do Dream Academy, Strawberry Switchblade e This Mortal Coil, para reaparecer em 1987/88 representada pelo Loop, Perfect Disaster e Spacemen 3, com as guitarras exercendo papel primordial.
Quanto ao novo rock americano, o que mais se verificou nos anos 80 foram grupos que procuraram retomar as raízes essenciais do rock´n´roll, reinventando-as em formatos idiossincráticos e dispensando os artifícios tecnológicos. Nesta corrente situaram-se o rockabilly (Stray Cats, Robert Gordon), o trashbilly (Joe King Carrasco) e o pshycobilly (Cramps) e, em termos de revival, pelo menos mais três tópicos importantes: as neo-garage bands (Pylon, Pandoras, Lyres), os neo-psicodélicos americanos (Plasticland, Fuzztones, Vipers) e o neo-country, seja associado ao rock (Translator, Let´s Active, Violent Femmes, Beat Farmers) ou em sua forma mais purista (Dwight Yoakam). Entre os movimentos marcantes destacaram-se o Paisley Underground (espécie de cooperativa das bandas independentes de L.A.) e as guitar bands (Sonic Youth, Dinosaur Jr., Band of Susans) que, empunhando as suas guitarras de forma inovadora em primeiro plano, deram um novo enfoque ao instrumento dentro do rock.
METAL
No início da década, o heavy metal parecia estar entrando em franco processo de decadência. O levante punk de 77 havia execrado os cabelos compridos, os solos virtuosísticos e os guitar heroes. A imprensa estava mais interessada nos desdobramentos do pós-punk do que nos órfãos do Led Zeppelin. Mas, na verdade, o cenário heavy se desenvolvia, alheio aos modismos. Provando que um trio básico sobrevivia aos novos tempos, o Motorhead e seu Are of Spades abriam a década com mais porrada ainda. Na Inglaterra, emergia a chamada "new wave of british heavy metal". Em agosto de 80, era realizado o primeiro Castle Donnington Festival, com destaque para o Rainbow de Ritchie Blackmore (ex-Deep Purple). O evento se repete todos os anos desde então. Em 81, o Iron Maiden lançava seu segundo LP, Killers e partia para sua primeira turnê japonesa.
Até 82, o metal esteve sob o domínio dos grandes nomes como Scorpions, Judas Priest, Black Sabbath e outros mega-grupos, todos com milhares de discos vendidos pelo mundo. Eram os anos da incerteza. Enquanto a Inglaterra fervilhava, na América, Kiss e Van Halen inauguravam a vertente mais soft, direcionada às FMs. Longe dos grandes grupos, inicia-se um outro ciclo. Em 83 eram lançados dois discos que demonstravam o surgimento de um novo conceito de metal. Black Metal do inglês Venom e Kill´em All do californiano Metallica mesclavam o hardcore dos punks com a técnica e a herança dos grupos de rock pesado como Motorhead e Black Sabbath. O aperfeiçoamento desta tendência, batizada de thrash metal, não fez desaparecer os nomes mais comerciais, como Motley Crue, Quiet Riot e Ratt.
O thrash começou a ser notado pelos selos e empresários maiores, atraindo a atenção de um público cada vez mais numeroso na Europa e nos Estados Unidos. A recíproca foi verdadeira: a partir de 85, alguns grupos ingleses originalmente punks, passaram a assimilar influências de speed e thrash. Neste mesmo ano, os fãs brasileiros quebraram seu jejum de apresentações ao vivo no Rock in Rio com as presenças do Whitesnake, Ozzy Osbourne, AC/DC e Iron Maiden. Com a revitalização do gênero, a figura do guitar hero, herdada de Jimi Hendrix, voltou para ficar. O responsável por isso é, sem dúvida, o sueco Yngwie Malmsteen.
Em 87, o novo metal dominou as paradas americanas. Metallica, Poison, Guns N´Roses e Slayer transformaram-se em um filão de ouro para a indústria fonográfica. Até o Grammy se viu na obrigação de incluir a categoria Heavy em sua premiação, embora em 89 o vencedor tenha sido o Jethro Tull (!!!). Sem samplers e outros equipamentos eletrônicos, tudo leva a crer que as guitarras e os amplificadores Marshall ainda vão soar alto por muitos anos.
No início da década, o heavy metal parecia estar entrando em franco processo de decadência. O levante punk de 77 havia execrado os cabelos compridos, os solos virtuosísticos e os guitar heroes. A imprensa estava mais interessada nos desdobramentos do pós-punk do que nos órfãos do Led Zeppelin. Mas, na verdade, o cenário heavy se desenvolvia, alheio aos modismos. Provando que um trio básico sobrevivia aos novos tempos, o Motorhead e seu Are of Spades abriam a década com mais porrada ainda. Na Inglaterra, emergia a chamada "new wave of british heavy metal". Em agosto de 80, era realizado o primeiro Castle Donnington Festival, com destaque para o Rainbow de Ritchie Blackmore (ex-Deep Purple). O evento se repete todos os anos desde então. Em 81, o Iron Maiden lançava seu segundo LP, Killers e partia para sua primeira turnê japonesa.
Até 82, o metal esteve sob o domínio dos grandes nomes como Scorpions, Judas Priest, Black Sabbath e outros mega-grupos, todos com milhares de discos vendidos pelo mundo. Eram os anos da incerteza. Enquanto a Inglaterra fervilhava, na América, Kiss e Van Halen inauguravam a vertente mais soft, direcionada às FMs. Longe dos grandes grupos, inicia-se um outro ciclo. Em 83 eram lançados dois discos que demonstravam o surgimento de um novo conceito de metal. Black Metal do inglês Venom e Kill´em All do californiano Metallica mesclavam o hardcore dos punks com a técnica e a herança dos grupos de rock pesado como Motorhead e Black Sabbath. O aperfeiçoamento desta tendência, batizada de thrash metal, não fez desaparecer os nomes mais comerciais, como Motley Crue, Quiet Riot e Ratt.
O thrash começou a ser notado pelos selos e empresários maiores, atraindo a atenção de um público cada vez mais numeroso na Europa e nos Estados Unidos. A recíproca foi verdadeira: a partir de 85, alguns grupos ingleses originalmente punks, passaram a assimilar influências de speed e thrash. Neste mesmo ano, os fãs brasileiros quebraram seu jejum de apresentações ao vivo no Rock in Rio com as presenças do Whitesnake, Ozzy Osbourne, AC/DC e Iron Maiden. Com a revitalização do gênero, a figura do guitar hero, herdada de Jimi Hendrix, voltou para ficar. O responsável por isso é, sem dúvida, o sueco Yngwie Malmsteen.
Em 87, o novo metal dominou as paradas americanas. Metallica, Poison, Guns N´Roses e Slayer transformaram-se em um filão de ouro para a indústria fonográfica. Até o Grammy se viu na obrigação de incluir a categoria Heavy em sua premiação, embora em 89 o vencedor tenha sido o Jethro Tull (!!!). Sem samplers e outros equipamentos eletrônicos, tudo leva a crer que as guitarras e os amplificadores Marshall ainda vão soar alto por muitos anos.
SELOS INDEPENDENTES
Quem diria que aquelas minúsculas gravadoras criadas no final dos anos 70 poderiam dar certo e ter em seu casting grupos altamente cobiçados pelas multinacionais? Poucos botavam fé quando surgiram Stiff, Rough Trade e Chiswick, as três pioneiras na Inglaterra. Porém, através do sucesso dos seus contratados junto ao público e à imprensa, apareceram outras como a Factory, Mute, 4AD, Postcard, Fast e Cherry Red.
Em 16 de maio de 81, o semanário inglês New Musical Express criou a primeira parada de independentes, na qual já figuravam nomes como Discharge, The Fall, Orange Juice e Bauhaus. Hoje, este quadro está altamente ampliado. Basta olhar para alguns dos mais significativos grupos da década - de Joy Division/New Order aos Sugarcubes - que vieram, ou ainda são, de indie labels.
Atualmente, a Inglaterra conta com mais de cem selos dependentes e os Estados Unidos, através de selos como Blast First, Enigma, SST, Homestead e Sub Pop estão muito bem representados.
Afinal, qual o segredo deste sucesso? Além do talento e da originalidade - que em sua maioria não pactua com as fórmulas e chavões pop - existe uma tremenda estrutura de organização. As indies inglesas, americanas e até mesmo as francesas e alemãs não são distribuídas apenas em seus países de origem. Juntos, os selos independentes europeus dominam entre dez e quinze por cento do mercado de discos do continente. Há companhias como a Cartel, Pinnacle e Revolver (GB) e Dutch East India Trading (EUA) especializadas somente em divulgação e distribuição. Esse é o grande trunfo destes idealistas que estão espalhados em todo o mundo, até mesmo no Brasil. Infelizmente por aqui, devido à falta de uma distribuidora, continuam sendo vistas como pobres bichos do mato sem quaisquer paralelos com as multinacionais.
OITENTA DISCOS
1980
1980
THE PRETENDERS
Este álbum de estréia do Pretenders é o ponto máximo da efêmera formação original do grupo (desfeita com a morte do guitarrista James Honeyman Scott em 1982 e a do baixista Pete Farndon um ano depois). Excelente interação entre as guitarras de Scott e Chrissie Hynde - também letrista e vocalista brilhante - aliadas ao peso da bateria de Martin Chambers.
SCARY MONSTERS - David Bowie
O último grande álbum de Bowie, o seu primeiro nos anos 80. Feito em seguida à trilogia de LPs em colaboração com Brian Eno (Low, "Heroes", Lodger), traz ainda no time de músicos nomes como Robert Fripp, Adrian Belew e Pete Townshend, além de memoráveis canções.
SEARCHING FOR THE YOUNG SOUL REBELS - Dexy´s Midnight Runners
Tomando como inspiração o soul das décadas de 50 e 60, este octeto liderado pelo vocalista Kevin Rowland fez deste seu LP de estréia um delicioso coquetel de arranjos de metais. No posterior - Tôo-Rye-Ay(1982) - Rowland, em mudança radical, mergulharia fundo no folk irlandês.
BOY - U2
O tiro de largada para a fulminante trajetória do U2 rumo ao superestrelato. Gravado praticamente sem overdubs e com produção de Steve Lillywhite, o disco transmite totalmente a energia transbordante do quarteto irlandês. Rumos musicais mais sofisticados seriam tomados pelo grupo (com a contribuição de Brian Eno) no LP The Unforgettable Fire (1984).
SANDINISTA! - The Clash
Um álbum triplo a ser comercializado pelo preço de um badge. Depois do duplo London Calling (1979), a guerrilha sonora do Clash partia para uma ofensiva ainda mais profunda em seu ecletismo musical nas trinta e seis canções deste Sandinista!.
FRESH FRUIT FOR ROTTING VEGETABLES - The Dead Kennedys
Um dos grupos pioneiros da cena punk de L.A., os DK fizeram deste seu primeiro LP um explosivo petardo de hardcore contra as instituições americanas, em faixas como "Kill the Poor", "California Über Alles" e "Holiday in Cambodja"
EMPIRES AND DANCE - Simple Minds
Este terceiro LP marcou o apogeu da primeira fase do Simple Minds. Com envolventes climas melódicos a cargo dos teclados e guitarras, o grupo trazia canções como "I Travel", "Twist/Run/Repulsion", "Room" e outras que ainda mostram muito mais criatividade do que a grande maioria dos trabalhos posteriores dos Minds.
KILLING JOKE
Ao se ouvir este LP de estréia do KJ, torna-se quase inacreditável a decadência em que o grupo se afundou na segunda metade dos anos 80. Poderosos riffs de guitarra, cozinha ultra-pesada e fortes composições fazem deste disco um dos grandes destaques do pós-punk inglês.
CROCODILES - Echo and the Bunnymen
Três anos depois de o punk ter enterrado os anos 70, os garotos de Liverpool ressuscitaram a psicodelia sem a ingenuidade do flower power, inaugurando uma releitura do rock dos anos 60 que persiste até hoje. Uma alquimia perfeita entre a voz profunda de Ian McCulloch, herdeiro de Jim Morrison, e as guitarras melodiosas e rascantes marcaram esta estréia do Echo.
CLOSER - Joy Division
A síntese perfeita da angústia terminal desta década, através das letras brilhantes de Ian Curtis e da sonoridade climática da mítica banda da não menos mítica Manchester. Foi o segundo e último LP do grupo que produziu uma cicatriz indelével na face do rock destes tempos, lançado semanas depois do Suicídio de Ian Curtis, um dos maiores poetas do rock de todos tempos.
REMAIN IN LIGHT - Talking Heads
O trabalho de prospecção rítmica que o quarteto nova-iorquino havia iniciado em Fear of Music (1979) atingiu sua máxima expressão neste LP, o terceiro sob a batuta de Brian Eno. A sofisticada combinação de batidas africanas, funk e rock assegurou aos Heads o posto como uma das mais inovadoras bandas americanas dos anos 80.
ARE YOU GLAD TO BE IN AMERICA? - James Blood Ulmer
Discípulo de Ornette Coleman o guitarrista James Blood Ulmer concebeu uma inovadora mistura de jazz, funk e polirritmias diversas neste seu segundo LP. Técnica e feeling em equilíbrio perfeito.
AMBIENT 2: THE PLATEAU OF MIRROR - Harold Budd and Brian Eno
Foi o segundo LP da série Ambient, em que Eno propunha uma música de textura delicada que não precisasse da atenção do ouvinte, servindo como pano de fundo. Foi também o ponto de partida da new age music.
1981
THE LEAGUE OF GENTLEMEN - Robert Fripp
Em 1980, Fripp lançava o álbum God Save the Queen/Under Heay Manners, no qual explicitava os conceitos de frippertronics - desenvolvido por ele e Brian Eno no LP No Pussyfooting, de 1973 - e discotronics (os frippertronics aplicados à batida do rock). Nesta última linha, no ano seguinte Fripp formaria a League, junto ao tecladista Barry Andrews (ex-XTC), baixista Sara Lee e o baterista Johnny Toobad, excursionando por pequenos clubes e gravando este único LP. Um caleidoscópio de sutis texturas musicais, embasado pela batida energética da new wave.
GET HAPPY!! - Elvis Costello and the Attractions
Verdadeiro "campeão" em quantidade de discos inseridos nas listagens de "melhores da década" da imprensa internacional, Elvis fez deste seu primeiro disco nos anos 80 uma sucessão de rápidos e dilacerantes flashs cotidianos - ora com composições próprias, ora adaptando clássicos dos anos 50 e 60 - nas vinte (micro) faixas de Get Happy!!, com um resultado arrebatador.
NIGHTCLUBBING - Grace Jones
Surgida em plena era disco, a ex-modelo Grace Jones trouxe sua voz quente e sensual para as praias da new wave e do reggae no início dos anos 80. Este seu quinto LP, além de um repertório impecável, também apresentava a extraordinária cozinha rítmica de Sly Dunbar (bateria) e Robbie Shakespeare (baixo).
THE ASCENSION - Glenn Branca
Com um enfoque totalmente inusitado do rock sinfônico, o compositor e guitarrista nova-iorquino Glenn Branca resgatou o gênero da mesmice dos grupos progressivos dos anos 70. Neste seu segundo álbum, trabalhando com quatro guitarras, baixo e bateria, ele construiu um sucessão dos mais diversos climas, que abrangeram desde acordes soando em uníssono até ruidosas intervenções conjuntas das guitarras.
PENTHOUSE AND PAVEMENT - Heaven 17
A dupla Ian Craig Marsh e Martyn Ware saiu do Human League e fundou a British Eletric Foundation, mais experimental, e o tecnopop yuppie Heaven 17. Mistura impecável de funk, soul e eletrônica com letras especialmente bem feitas.
DARE - Human League
Após dois discos experimentais, o Human League acertou o ponto entre o uso inteligente dos sintetizadores e a capacidade de fazer irresistíveis canções pop. Clásssico da tecnodisco.
NON-STOP EROTIC CABARET - Soft Cell
Marc Almond e David Ball casaram sintetizadores e perversão de maneira magistral. Seu álbum de estréia deixou uma mancha de morbidez no tecnopop.
THE POET - Bobby Womack
Tendo trabalhado com Sam Cooke e Wilson Pickett, Bobby enquanto guitarrista e compositor tornou-se uma figura lendária na soul music, tendo feito uma fecunda carreira solo a partir do início dos anos 70, a qual entrou em declínio no final da década. Com este The Poet, ele conseguiu um espetacular comeback a sua velha forma.
MY LIFE IN THE BUSH OF GHOSTS - David Byrne and Brian Eno
Obra de referência indispensável para entender a evolução da dance music e da world music. Gravado logo após o LP Remain in Light, dos Heads, Eno e Byrne aprofundaram e radicalizam o encontro musical do primeiro com o terceiro mundo.
TIN DRUM - Japan
Herdeiros da elegância do Roxy Music com uma aura de neo-românticos decadentes e múltiplas influências - da música japonesa ao funk - o Japan encontrou a sua melhor forma neste seu quinto LP.
RED MECCA - Cabaret Voltaire
As experiências com eletrônica, manipulação de tapes e ruídos do grupo da industrial Sheffield atingiram sua maturidade neste disco, que tinha como pano de fundo a trilha de Henry Mancini para A Marca da Maldade (de Orson Welles), retrabalhada pelos Cabs.
BLACK PRESIDENT - Fela Kuti
Criador do afro-beat - o gênero que cruza ritmos iorubás e James Brown-, coqueluche na Europa, esse nigeriano alcançou seu ponto máximo no ultrapolitizado Black President. Por provocações deste tipo e pela sua posição frontalmente contrária ao apartheid Feia Kuti passou parte de sua existência entre as grades.
DEUCE - Kurtis Blow
O segundo LP do pioneiro do rap e do uso de scratch apresentou uma curiosa peculiaridade: o number one Kurtis Blow não usava nenhum recurso eletrônico, como/ seqüenciadores, e fazia seu rap à base de instrumentos elétricos.
DIE KLEINEN UND DIE BÖSEN - Deutsche Amerikansiche Freundschaft
Em seu primeiro lançamento internacional, a banda alemã iniciou a aproximação entre suas tempestades eletrônicas e cerebrais com a dance music, um trabalho que iria se aperfeiçoando em seus LPs Alles Ist Gut e Gold und Liebe (ambos de 1981).
1982
AVALON - Roxy Music
Influência seminal no rock dos anos 70, o Roxy ainda encontrou fôlego para adentrar a década seguinte com o respeitável LP Flesh and Blood e apresentar um trabalho ainda superior em Avalon. Uma extraordinária coleção de canções adornadas por sutis texturas musicais.
PETER GABRIEL
Neste seu quarto LP solo, Gabriel aprimorou uma tendência já presente em seu álbum anterior, mesclando timbres eletrônicos com ritmos pouco convencionais num trabalho altamente criativo.
PORNOGRAPHY - The Cure
Um álbum intenso dentro de sua profundidade mórbida, Pornography tornou-se uma espécie de epitáfio da fase "negra" do Cure, com seus sons e letras soturnos. A próxima parada de Bob Smith & Cia. seriam as pop charts.
JUNKYARD - The Birthday Party
Um ano antes de sua dissolução, o grupo australiano Birthday Party lançava este seu quarto e último álbum, onde a tempestade sonora detonada pela banda e os vocais guturais de Nick Cave tomavam contornos definitivos, em faixas como "Dead Joe", "Big-Jesus-Trash-Can" e "She´s Hit".
WORDS FROM THE FRONT - Tom Verlaine
Com canções mais longas e climáticas que as de seus dois álbuns anteriores, esta terceira incursão solo do ex-líder do Television trouxe pequenas obras-primas como "True Story", "Dayson the Mountain" e a própria fixa-título.
SULK - Associates
Este terceiro LP dos Associates - eleito então como o álbum do ano pela Melody Maker - revelou porque Billy Mackenzie e Alan Rankine são figuras de proa no formato de duo tecnopop. Um trabalho exemplar pela força das composições, arranjos e timbres conseguidos.
BIG SCIENCE - Laurie Anderson
Depois de ter participado de várias coletâneas, a performática Laurie Anderson estreou com este álbum, que trouxe sua minimal combinação de vocais e sons eletrônicos, com destaque para "O Superman".
THE LEXICON OF LOVE - ABC
Álbum de estréia da banda que não teve pudor em retomar ao pop com refinamento. Um tratado ambicioso sobre o amor moderno, embalado por teclados, saxofone e cordas.
NEBRASKA - Bruce Springsteen
O "futuro do rock´n´roll" em seu trabalho mais introspectivo, realista e sincero. Bruce abandonou por uns momentosa grandiloqüência e mostrou seus blues desolados, de fitas tiradas do fundo do baú.
A KISS IN THE DREAMHOUSE - Siouxsie and the Banshees
Guitarras distorcidas, batida tribal, harmonias fluidas, climas mórbidos: era o gótico reinando supremo através de sua majestade única, Siouxsie. As referências exóticas e a atmosfera onírica de A Kiss... abriram as portas para a neo-psicodélia.
THRILLER - Michael Jackson
O disco mais bem sucedido de todos os tempos - vendeu cerca de quarenta milhões de cópias, rendeu sete compactos e alçou o videoclip à categoria de superprodução - foi o produto de uma feliz combinação da produção impecável de Quincy Jones, com o brilhante falsete e o carisma inegável de Michael Jackson. Clássico das pistas de dança.
MIDNIGHT LOVE - Marvin Gaye
Depois de um período de complicações em sua vida pessoal/ profissional, Marvin Gaye lançou este disco que apontava caminhos a serem explorados pelo soul. Dezoito meses depois, sua vida teve um trágico ponto final, mas "Sexual Healing" - uma das canções mais sensuais da história do pop - permaneceu como a marca do gênio.
RIO - Duran Duran
Tecnopop luxuoso, ancorado por uma cozinha pulsante e vigorosa, mais vocais carismáticos de Simon Le Bon transformaram o DD numa banda de sucesso e na sensação das adolescentes. Rio foi seu momento mais criativo, depois viria a acomodação.
SONGS TO REMEMBER - Scritti Politti
Uma celebração moderna do estilo, orquestrada pela habilidade do vocalista e compositor Green Gartside em arquitetar canções de apelo irresistíve.
1983
MURMUR - R.E.M.
Um ano depois do EP Chronic Town, o R.E.M. causaria ainda maior sensação com este seu álbum de estréia: uma retomada das sonoridades dos anos 60 sob um contexto extremamente inovador, revitalizando totalmente o conceito de garage band.
SWORDFISHTROMBONES - Tom Waits
O primeiro álbum de uma trilogia que se completaria com os LPs Rain Dogs e Frank´s Wild Years. O LP representou uma guinada na carreira de Waits, quando sua voz bêbada passou a ser secundada por acompanhamentos igualmente trôpegos e influenciados pelo jazz.
PERVERTED BY LANGUAGE - The Fall
Na extensa discografia do Fall, este disco é um dos que merecem especial destaque. Um must do som intuitivo do grupo embasando os inconfundíveis vocais e letras de Mark E. Smith (aqui, pela primeira vez ao lado de sua mulher, a guitarrista Brix). De quebra, uma das canções mais instigantes do Fall: "Garden".
DUCK ROCK - Malcolm McLaren
O gatuno-mor do pop contemporâneo, depois de transformar o punk num fenômeno em escala mundial, foi vampirizar o hip-hop. É um exercício de pilhagem indiscriminada de rap, música africana, merengue,que ainda soa extremamente moderno.
TOUCH - Eurythmics
Foi com este álbum que a dupla Annie Lennox e Dave Stewart consolidou seu sucesso em nível mundial. Mescla com propriedade invenção e pop, variedade e estilo, mais o charme andrógino de Lennox. Na esteira do sucesso, foi lançado um LP com remixes, Touch Dance (1984).
1984
(WHO´S AFRAID OF) THE ART OF NOISE - The Art of Noise
Mestres das colagens sonora através de samplers, aliadas a potentes ritmos eletrônicos, o AON - Anne Dudley,J.J. Jeczalik e convidados diversos - criaram um novo conceito sonoro nos anos 80, como já prenunciava este seu LP de estréia.
TREASURE - Cocteau Twins
O terceiro e melhor álbum deste trio escocês, onde a beleza das melodias foi realçada pela densidade dos arranjos de guitarras e teclados superpostos e os vocais únicos de Elizabeth Fraser
WITHOUT MERCY - Durutti Column
O LP em que o guitarrista Vini Reilly consolidaria a direção musical que o DC iria tomar a seguir com a incorporação de outros instrumentos (leia-se cordas e metais), além da bateria de Bruce Mitchell. Uma única (e bela) composição, trespassada por múltiplos climas.
YOUR FUNERAL...MY TRIAL - Nick Cave & the Bad Seeds
Dois discos em 45 rpm, com duas canções de cada lado, reunidos no formato de um álbum duplo. Esta foi a formula escolhida pelos Bad Seeds para apresentar as densas composições de Your Funeral..., que retratou não só a inspirada fase do grupo, como a plena forma vocal de Nick Cave.
THE SMITHS
A redenção do rock´n´roll dos anos 80 estreou com um disco muito perto da perfeição. As letras melancólicas e atormentadas de Morrissey, as guitarras melodiosas, sutis e minuciosas de Johnny Marr são um dos momentos mais inspirados da história do rock.
DIAMOND LIFE - Sade Adu
O pop estilizado com tinturas jazzísticas da anglo-nigeriana Sade Adu foi a versão mais elegante e chique da new bossa. A sua delicadeza cool a transformou num must dos yuppies.
LIKE A VIRGIN - Madonna
Atlética e feminina, provocante e inacessível, esperta e ingênua: Madonna mixou estes polos de sua personalidade com tal precisão que se tornou o ícone pop da década. A música foi uma parte de sua performance existencial mas rendeu, ao longo de sua carreira, alguns hits dançantes respeitáveis, como os deste LP.
1985
PSYCHOCANDY - The Jesus and Mary Chain
Aclamado como um crossover de Velvet Underground com Phil Spector, este quarteto escocês - tendo à frente os irmãos Jim e William Reid - fez de verdadeiras muralhas de feedback e distorções diversas a tônica deste seu LP de estréia.
OLD ROTTENHAT - Robert Wyatt
Após uma queda acidental que o deixou paralítico em 1974, o ex-baterista do Soft Machine resumiu a sua carreira a apresentações esporádicas e discos irregulares, até que em 1985 gravou este excepcional Old Rottenhat, onde retomou à sua melhor forma. Um LP no qual o que Wyatt economiza em recursos (apenas teclados simples e ritmos programados), ele esbanja em criatividade.
LOW LIFE - New Order
O que se anunciava em Power, Corruption and Lies (1983), a volta por cima sobre a morte de Ian Curtis, atingiu aqui sua forma mais burilada: o mix inteligente da precisão eletrônica e da fragilidade que fez do New Order uma das bandas mais importantes da década.
1/2 MENSCH - Einstürzende Neubaten
Objetos de metal espancados por martelos, machados, canos e chaves inglesas, distorção de guitarra levada ao limite da dor de ouvido e um psicótico esgoelando - se há alguma banda que mereça ser chamada de radical são esses alemães. Este foi seu LP mais audível e variado, sem contudo perder o impacto sonoro.
BROTHERS IN ARMS - Dire Straits
Desde 1977 liderando os Dire Straits, o guitarrista inglês Mark Knopfler tornou-se um dos mais cultuados pelo grande público durante os anos 80, quando este Brothers in Arms alcançou os píncaros de vendagens no mundo inteiro. Nascia assim mais um guitar hero...
1986
CANDY APPLE GREY - Hüsker Dü
Em seu primeiro álbum para uma grande gravadora (Warner), este trio de Minneapolis traçaria caminhos mais melódicos para o seu pop-hardcore, sem com isto perder a sua intensa visceralidade.
EVOL - Sonic Youth
Depois de três LPs e dois LPs, este foi um álbum que trouxe um novo direcionamento musical para o SY quando, pela primeira vez, o grupo buscou elaborar linhas mais melódicas em meio a seu caos sonoro de noise de guitarras. Essencial.
MASTER OF PUPPETS - Metallica
Talvez o maior baluarte do novo metal independente americano surgido nos anos 80, a banda californiana Metallica solidificou seu estilo rápido e incisivo a partir deste seu terceiro álbum. Disco de cabeceira para os headbangers.
RAISING HELL - Run DMC
O trio de Queens realizou o notável feito de fazer a audiência branca adotar o hip hop. "Walk This Way", uma versão do Aerosmith, tornou-se um clássico incontestável e foi o responsável pelo extraordinário sucesso do Run DMC.
RADIO - L. L. Cool J.
O primeiro LP do really bad L. L. Cool J. e da Def Jam, o selo que estabeleceu o padrão de produção do hip hop e o tornou um produto comercial no mundo inteiro. L.L. tinha apenas dezessete anos e já mostrava sua potência destruidora no beat minimale na urgência adolescente e arrogante de seu rap.
FLAUNT IT - Sigue Sigue Sputnik
A famosa quinta geração do rock´n´roll era isso: uma piada/jogada de marketing que achou que tinha descoberto a fórmula perfeita. Energia dos anos 50, glam dos 70 e tecnologia dos 80, temperados com quilos de maquiagem e pretensão. Foi o primeiro disco da história a autorizar a inserção de mensagens comerciais entre as faixas.
THE UNACCEPTABLE FACE OF FREEDOM - Test Department
O grupo industrial inglês combinou barulho, metais surrados por ferramentas com ritmos seqüenciados e melodias, até. Este violento manifesto anti-Thatcher foi o ápice de sua demolidora carreira.
ELETRIC CAFE - Kraftwerk
Matriz primeira da experimentação eletrônica e de sua utilização no pop, o Kraftwerk reapareceu depois de sete anos de espera (o anterior, Computer World é de 1981). Os pais do tecnopop surgiram aqui em sua faceta mais simples e dançável.
RAPTURE - Anita Baker
Dona de uma das maiores vozes femininas de música negra surgidas nesta década, Anita Baker foi a descendente cool e sofisticada de Aretha Franklin. Soul delicado, feito frases sussuradas em ambientes esfumaçados.
1987
THE YOUNG GODS
Causou enorme impacto no meio musical este LP de estréia dos Young Gods, pelo uso absolutamente criativo dos samplers e seqüenciadores feito pelo trio. Com trechos sampleados que iam de Stooges a Tchaikovsky, eles conceberam uma genial salada musical de sabor único. Uma prévia do som do futuro.
AMONG THE LIVING - Anthrax
Mais aparentando ser uma gang de rua de Nova York do que uma banda de metal, o Anthrax aliou a urgência do hardcore ao seu estilo heavy e neste seu terceiro álbum afirmou-se na linha de frente do novo metal americano.
YO! BUM RUSH THE SHOW - Public Enemy
Uma saraivada no rap narcisista e repetitivo, o álbum de estréia de Chuck D e sua gang apresenta um beat pulverizante de múltiplas e ecléticas referências, a trilha sonora mais adequada para o apocalipse. O seu fanatismo militante é quase perigoso, mas a música é arrasadora.
BÊTE NOIRE - Bryan Ferry
O dândi cool que foi imitado nos anos 80 à exaustão não podia deixar a década sem nada a dizer. Ferry mostrou que envelhecer com dignidade é uma arte reservada para poucos. Ele canta melhor que nunca e mantém sua sensibilidade melódica intacta. Longa vida para Bryan ferry.
SIGN O´ THE TIMES - Prince
Prince foi uma espécie de síntese definitiva de toda a música pop, o crossover absoluto entre a música negra e a música branca, e a personalidade mais intrigante dos anos 80. Multiinstrumentista, compositor, produtor, letrista e vocalista, ele já deixou, ao longo de sua produtiva carreira, uma respeitável coleção de obras-primas como Dirty Mind (1980), Purple Rain (1984), além desta.
FAITH - George Michael
O ex-Wham! cresceu, deixou a barba por fazer e ascendeu da condição de ídolo adolescente para a de símbolo sexual pop. Pop polido à base de Motown e Prince e letras provocantes como "I Want Your Sex" que vendem milhões de cópias no mundo inteiro.
THE ALBUM - Mantronix
Primeiro LP totalmente sampleado. Dando seqüência ao trabalho de produtor Afrika Bambaataa, o Mantronix fez a ponte entre o eletro pop europeu e a street music nova-iorquina, apontando um novo caminho para o hip hop.
1988
69 - Ar Kane
Este primeiro LP de Ar Kane traçou as principais diretrizes do chamado oceanic rock, música etérea que engloba as mais disparatadas referências (jazz, folk, progressivo, afro) no mesmo caldeirão musical. Destaque também para o fantástico trabalho de produção e mixagem.
LIFE´S TOO GOOD - Sugarcubes
E quem diria que a nova sensação do pop viria da Islândia? O inusitado de sua origem se reflete no esquisito vocal de Bjõrk, nos efeitos sonoros do trompete de Einar Örn e nas letras surrealistas.
SO FAR, SO GOOD... SO WHAT? - Megadeth
Liderado pelo guitarrista Dave Mustaine (ex-Metallica), o Megadeth neste seu terceiro álbum mostrou plenamente por que é considerado um dos expoentes da safra 80 do metal, provando que nem só de poseurs e mensagens satânicas é constituído o estilo.
ISN´T ANYTHING - My Bloody Valentine
Levando adiante o conceito de wall of sound revitalizado nos anos 80 pelo Jesus and Mary Chain, o MBV foi ainda mais fundo na utilização do feedback, competindo com os vocais pelo primeiro plano e na releitura atualizada dos sons da década de 60, como demonstra este seu segundo álbum.
SURFER ROSA - Pixies
Saídos de Boston para a cena musical inglesa, os Pixies neste seu segundo álbum concretizaram todas as boas promessas de sua estréia em vinil (com o LP Come on Pilgrim, de 1987): um rock urgente, a cargo de guitarras incisivas e uma cozinha poderosa, quase que soterrando os ácidos vocais.
1989
INTO THE DRAGON - Bomb the Bass
O verão europeu de 1988 foi literalmente invadido pela acid house - o mix (que parecia impossível) da batida ultradançante da house de Chicago com os delírios do acid rock. O Bomb the Bass, a banda de um homem só, Tim Simenon, neste LP levou as colagens sonoras ao extremo.
Sai o Batman camp dos seriados de TV e entra a barra pesada do Cavaleiro das Trevas de Frank Miller. E exploda-se Robin! Horror, violência e sangue se tornaram códigos da nova era, batizada de Dark Age por Neil Gaiman. Tudo começou com The Watchmen, a série de Alan Moore que mostrou como o tempo estava se esgotando para os super-heróis. Os vilões ganharam projeção: A Piada Mortal, de Moore e Brian Bolland, é um show do Coringa, e Born Again, a série do Demolidor escrita por Miller, é o palco do Rei. O desenho/colagem/escultura de Bill Sienkiewicz em Stray Toasters e Elektra fixou a loucura da década sob o signo das artes plásticas. Jon J. Muth, Kent Williams e Dave McKean (autor das capas de Hellblazer, as mais bonitas da década) assinam embaixo. Edições de luxo, com capa dura e papel especial - as graphic novels - invadiram as livrarias, aumentando a média etária dos leitores de 16 para 23 anos, segundo pesquisa da DC. Ninguém mais diz que quadrinhos é coisa de criança.
A proliferação dos "quadrinhos de autor" no mercado americano criou uma curiosa imersão na relação EUA-Europa, levando feras como Moebius (que desenhou Surfista Prateado) a trabalhar com as medusas editoriais yankees. Os britânicos foram instantâneos, mudando-se com tudo para a segurança dos Big Brothers Marvel-DC. Alan Moore foi dos primeiros, iniciando sua corrosão com o premiado Monstro do Pântano, uma série tão nojenta quanto o filme Evil Dead. Depois vieram a dupla de Black Orchid, Neil Gaiman e Dave McKean, a dupla Pat Mills e Kevin O´Neill, artistas de Marshall Law, o assassino de super-heróis, e Grant Morrison, criador de Zenith, um super-cara samplado do agito londrino, com uniforme baseado em designs de Vivienne Westwood e Jean-Paul Gaultier.
As editoras independentes também ganharam fôlego, com personagens como Concrete, um ser rochoso que não faz absolutamente nada, Mister X, um careca viciado em estimulantes, Rocketeer, com visual à la Golden Age, Badger, um lunático acredita ser super, e Black Kiss, o primeiro comic estrelado por um travesti, de autoria de Howard Chaykin, um dos mestres da década. Mas o maior destaque pertence aos magníficos bros. Hernandez, que publicaram o mundo dos chicanos e punquetes bi-sexies nas páginas de seus Love and Rockets.
Will Eisner, que chegou a quadrinizar sua biografia (The Dreamer), desenvolveu uma série de álbuns sobre pessoas comuns em situações urbanas. Guido Crepax mergulhou na literatura sado-masoquista. Salvatore e Tamburini lançaram a raiva de Ranxerox contra a banalidade. E Mattioli espremeu cartoons até escorrerem tripas (em Squeak the Mouse). Sangue, sexo concreto por todos os lados.
Os quadrinhos brasileiros sobreviveram nas tiras diárias, publicadas na imprensa, que se tornaram populares a ponto de gerar revistas e adaptações para a TV (o casal Neuras, de Glauco, acabou em TV Pirata). Geraldão, de Glauco, Rê Bordosa, de Angeli, e Níquel Náusea, de Fernando Gonsales, estão entre os melhores personagens.
Parabéns, adorei! Vou compartilhar!!!
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