REM
Em sua terra natal, os americanos do R.E.M. são, já há alguns anos, incondicionais queridinhos da crítica. Na Europa, então, a adoração se estende a um pequeno mas fanático séquito. E a tribo que os coloca, junto com os grupos Jason & the Scorchers, Violent Femmes, Dream Syndicate e Gun Club numa espécie de renascença do verdadeiro rock ianque = rústico, guitarreiro e não pasteurizado.
Ou seja, o R.E.M. está, com seu terceiro LP na boca do forno, pronto para subir à tona, até os olhos, ouvidos e coração do chamado "grande público". Já estava mais do que na hora...
Formado em 1980 por Peter Buck (guitarra), Michael Stipe (vocal), Mike Mills (baixo) e Bill Berry (bateria), o R.E.M. pôs no mapa musical o nome de Atlanta, capital da Geórgia. Com várias gravações superpostas de Buck, ora na guitarra, ora no violão, o primeiro compacto era uma produção independente com Radio Free Europe e Sitting Stil/. Não deu outra: melhor do ano (81) segundo os críticos da Rolling Stone. A mesma turma de escribas que elegeria Murmur, o LP de estréia, melhor de 83.
No confronto direto com o público não foi tão fácil. Os fregueses de um bar, no Texas, pagaram à banda 500 dólares para ela não tocar. Num show para a Força Aérea americana, tiveram de sair do palco sob proteção policial, tomates voadores e gritos de bicha!. Doce calvário dos inovadores.
R.E.M. é um termo médico que abrevia rapid eye movement (rápido movimento ocular) e designa a etapa do sono em que mergulhamos em sonhos. Sintonia direta com as letras enigmáticas, quase obscuras, que povoam um universo sonoro comparado freqüentemente a dois marcos do rock feito à base da fusão guitarra/violão, os Byrds e o Velvet Underground.
No palco, essa textura se espalha em trancos e barrancos de liberdade e irreverência. E capaz que o H.E.M. seja a última banda do planeta a aceitar - e tocar - pedidos da platéia.
JESUS AND MARY CHAIN
Quando você ouvir - e ouvir falar de - Jesus and Mary Ghaifl, pense em desintegração. São quatro garotos de Glasgow, Escócia, um belo buraco onde não existe nada para a garotada, a não ser um bate-bola, e um porre constante. Willian Raid (guitarra). Jim Reid (vocal). Douglas Hart (baixo) e Bobby Gillespie (bateria) têm menos de vinte anos. Formaram a banda há menos de um ano. Nesse tempo, saíram da monotonia caseira, estabeleceram-se em Londres - morando três em um quarto -, lançaram um compacto (Upside Down) pelo selo ultra-independente Creation, lançaram outro compacto (Never Understand) pelo selo menos independente Blanco Y Negro (associado à WEA), que penetrou nas paradas inglesas, e logo passaram a ser qualificados de "Sex Pistols dos anos 80". Qual é o mistério?
Desintegração. Uma batida psicótica. Uma melodia pop que se arrasta como um dinossauro ferido - E ondas e ondas de microfonia. Para eles, a microfonia não é apenas um truque no final de um acorde, usado para excitar o ouvinte. E a própria essência de seu som. Hendrix adoraria.
Não existe tonalidade. Não existem os crescendo que atingem aqueles piques dançantes e assobiáveis próprios ao pop. Temos microfonia rasgando o ouvido como uma lima, e a guitarra arranhada a ponto de soltar faíscas. Eu os ouvi pela primeira vez em urna fita pirata da um vendedor em Portobello Road, em Londres. Disse ele: "O concerto é assim mesmo - Quarenta minutos de microfonia. E quando elas resolvem ir embora, param e saem no meio de uma música".
Apareceram em um "vídeo", digamos assim, na BBC- Camisas soltas, caras de bebê, branquinhos, jeans rasgados no joelho. Um estilo de neo-psicodelismo. Mas eles não estão preocupados com modas.
A Corrente de Jesus e Maria. A ambivalência de fundo religioso não fica só no nome. Em nome do pai do rock - Elvis -, o Filho - malucos e degenerados do som dos anos 60 - e do Espírito Santo - a geração punk -, esta corrente diz "Amém".
Tudo que surgiu de importante no mastodôntico universo pop veio de fora. Grupos e figuras marginais, outsiders com intenções conscientes ou sub. Os inclassificáveis.
O primeiro Espírito Santo dessa descendência seria o Velvet Underground. Houve outros famosos como Bryan Ferry e o Roxy Music Marc Bolan e o T. Rex, Bowie, Iggy Pop, os New York Dolls. Depois, geração de 77- Pistols, Tom Verlaine e seu Television, Richard Hell, Joy Division. Até cair do céu a mais transgressiva ala 80 - do que sobrou da desconstrução do Birthday Party aos vôos de Swans e Swans Way, dos eletrocavernosos Alien Sex Friend aos Príncipes da Escuridão, os sisters of Mercy.
Este seria o som do incesto de Jesus e Maria. Cortante, estilhaçador um diamante bruto rasgando o vidro. Por tudo que evita, por todos os sons que não respeita, por todo os silêncios aos quais não se submete, a "musica" de Jesus and Mary Chain é uma das soluções possíveis para a música pop.
A indústria do pop é mais voraz do que qualquer monstro mitológico. Precisa de um mito a cada dia. Na indústria, existe uma grande expectativa em torno desses escoceses. Eles serão capazes de gravar um LP? A WEA vai apostar no seu sucesso? Eles são capazes de levar gente a seus concertos? Tudo isso é secundário. Jesus and Mary Chain já cumpriram sua função transgressiva. Se voltarem ao silêncio, será um grande e apropriado final.
Em sua terra natal, os americanos do R.E.M. são, já há alguns anos, incondicionais queridinhos da crítica. Na Europa, então, a adoração se estende a um pequeno mas fanático séquito. E a tribo que os coloca, junto com os grupos Jason & the Scorchers, Violent Femmes, Dream Syndicate e Gun Club numa espécie de renascença do verdadeiro rock ianque = rústico, guitarreiro e não pasteurizado.
Ou seja, o R.E.M. está, com seu terceiro LP na boca do forno, pronto para subir à tona, até os olhos, ouvidos e coração do chamado "grande público". Já estava mais do que na hora...
Formado em 1980 por Peter Buck (guitarra), Michael Stipe (vocal), Mike Mills (baixo) e Bill Berry (bateria), o R.E.M. pôs no mapa musical o nome de Atlanta, capital da Geórgia. Com várias gravações superpostas de Buck, ora na guitarra, ora no violão, o primeiro compacto era uma produção independente com Radio Free Europe e Sitting Stil/. Não deu outra: melhor do ano (81) segundo os críticos da Rolling Stone. A mesma turma de escribas que elegeria Murmur, o LP de estréia, melhor de 83.
No confronto direto com o público não foi tão fácil. Os fregueses de um bar, no Texas, pagaram à banda 500 dólares para ela não tocar. Num show para a Força Aérea americana, tiveram de sair do palco sob proteção policial, tomates voadores e gritos de bicha!. Doce calvário dos inovadores.
R.E.M. é um termo médico que abrevia rapid eye movement (rápido movimento ocular) e designa a etapa do sono em que mergulhamos em sonhos. Sintonia direta com as letras enigmáticas, quase obscuras, que povoam um universo sonoro comparado freqüentemente a dois marcos do rock feito à base da fusão guitarra/violão, os Byrds e o Velvet Underground.
No palco, essa textura se espalha em trancos e barrancos de liberdade e irreverência. E capaz que o H.E.M. seja a última banda do planeta a aceitar - e tocar - pedidos da platéia.
JESUS AND MARY CHAIN
Quando você ouvir - e ouvir falar de - Jesus and Mary Ghaifl, pense em desintegração. São quatro garotos de Glasgow, Escócia, um belo buraco onde não existe nada para a garotada, a não ser um bate-bola, e um porre constante. Willian Raid (guitarra). Jim Reid (vocal). Douglas Hart (baixo) e Bobby Gillespie (bateria) têm menos de vinte anos. Formaram a banda há menos de um ano. Nesse tempo, saíram da monotonia caseira, estabeleceram-se em Londres - morando três em um quarto -, lançaram um compacto (Upside Down) pelo selo ultra-independente Creation, lançaram outro compacto (Never Understand) pelo selo menos independente Blanco Y Negro (associado à WEA), que penetrou nas paradas inglesas, e logo passaram a ser qualificados de "Sex Pistols dos anos 80". Qual é o mistério?
Desintegração. Uma batida psicótica. Uma melodia pop que se arrasta como um dinossauro ferido - E ondas e ondas de microfonia. Para eles, a microfonia não é apenas um truque no final de um acorde, usado para excitar o ouvinte. E a própria essência de seu som. Hendrix adoraria.
Não existe tonalidade. Não existem os crescendo que atingem aqueles piques dançantes e assobiáveis próprios ao pop. Temos microfonia rasgando o ouvido como uma lima, e a guitarra arranhada a ponto de soltar faíscas. Eu os ouvi pela primeira vez em urna fita pirata da um vendedor em Portobello Road, em Londres. Disse ele: "O concerto é assim mesmo - Quarenta minutos de microfonia. E quando elas resolvem ir embora, param e saem no meio de uma música".
Apareceram em um "vídeo", digamos assim, na BBC- Camisas soltas, caras de bebê, branquinhos, jeans rasgados no joelho. Um estilo de neo-psicodelismo. Mas eles não estão preocupados com modas.
A Corrente de Jesus e Maria. A ambivalência de fundo religioso não fica só no nome. Em nome do pai do rock - Elvis -, o Filho - malucos e degenerados do som dos anos 60 - e do Espírito Santo - a geração punk -, esta corrente diz "Amém".
Tudo que surgiu de importante no mastodôntico universo pop veio de fora. Grupos e figuras marginais, outsiders com intenções conscientes ou sub. Os inclassificáveis.
O primeiro Espírito Santo dessa descendência seria o Velvet Underground. Houve outros famosos como Bryan Ferry e o Roxy Music Marc Bolan e o T. Rex, Bowie, Iggy Pop, os New York Dolls. Depois, geração de 77- Pistols, Tom Verlaine e seu Television, Richard Hell, Joy Division. Até cair do céu a mais transgressiva ala 80 - do que sobrou da desconstrução do Birthday Party aos vôos de Swans e Swans Way, dos eletrocavernosos Alien Sex Friend aos Príncipes da Escuridão, os sisters of Mercy.
Este seria o som do incesto de Jesus e Maria. Cortante, estilhaçador um diamante bruto rasgando o vidro. Por tudo que evita, por todos os sons que não respeita, por todo os silêncios aos quais não se submete, a "musica" de Jesus and Mary Chain é uma das soluções possíveis para a música pop.
A indústria do pop é mais voraz do que qualquer monstro mitológico. Precisa de um mito a cada dia. Na indústria, existe uma grande expectativa em torno desses escoceses. Eles serão capazes de gravar um LP? A WEA vai apostar no seu sucesso? Eles são capazes de levar gente a seus concertos? Tudo isso é secundário. Jesus and Mary Chain já cumpriram sua função transgressiva. Se voltarem ao silêncio, será um grande e apropriado final.
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