quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Bizz número 1 - Como? Você nunca ouviu falar do The Smiths?

 
COMO? VOCÊ NUNCA OUVIU FALAR DOS SMITHS?

    A primeira pista veio fia primavera de 83, numa dessas livrarias que vendem revistas importadas. A Rolling Stone abria várias páginas e fotos para um apanhado das bandas inglesas que brotavam sobre as cinzas da velha wave. O quente então eram os grupos batizados como "positive punk" e alardeados como a "próxima onda". Nem dei bola para esses Smiths, cujo vocalista/letrista Morrissey afirmava "ter vindo salvar a música pop, que estava um lixo".
    Declarações desse calibre já perderam a graça. Além disso, faz parte da música pop ser essencialmente um lixo. Mas, uns seis meses depois, seria impossível ignorar que a Inglaterra estava varrida pelos Smiths, como a mais contagiosa das pestes. Quanto à onda de punk "positivo", restavam os tenebrosos Sisters of Mercy.
    Bastaram três compactos pelo selo independente Rough Trade - na ordem, "This Charming Man", "Hand In Glove" e "What Difference Does It Make?". Quando saiu finalmente o LP, em fevereiro de 84 (direto para o segundo lugar das paradas), público e crítica se misturavam numa rara e reverente confraternização. "Existe pouco lugar neste álbum para o que não seja a perfeição", dizia o semanário Melody Maker.
    Qual o segredo? A primeira escutada, o sucesso parece desmedido. Prevalece a estranheza provocada pelo vocal de Morrissey - ora um barítono cheio de rodeios, ora um falsete desesperado - e pelo inabalável senso comum com que a banda traduz a predileção pelo lugar comum (daí o nome Smíths, equivalente a "Os Silva").
    A hipnose é lenta e insidiosa. Quando você percebe, já é tarde demais. O que antes parecia um pop retrô. puro anos 60, eletrocuta o cérebro como uma revelação. As melodias são levadas sempre por delicados dedilhados do guitarrista Johnny Marr (autor de todas as músicas).
    Sobre essa doçura, vem o golpe fatal das letras de Morrissey. Oscilam entre o mais exaltado lirismo e a mais mórbida apatia, invadidos por todos os poros de uma sensualidade pesada e ambígua. Para os céticos, não passam de fricotes literários homossexualóides, coisas de um rapaz que passou a adolescência lendo Oscar Wilde e contemplando posters de James Dean. Mas Morrissey, que se diz celibatário ("no sexo, as fantasias são sempre melhores que a realidade"), é avesso ao rótulo, frágil demais para o poder de alcance das letras.
    Os céticos fechariam o bico com a obra-prima, ainda por vir no lado B do compacto "William, It Was Really Nothing". Movida por uma circular pulsação guitarreira, ´How Soon Is Now" já derruba qualquer preconceito antes de entrarem os primeiros versos:
    A música acabou entrando em Hatful of Hollow. o segundo LP, uma reunião de todos os compactos lançados após o primeiro, mais algumas faixas repetidas em regravações para programas de rádio. Em fevereiro deste ano, "How Soon Is Now" volta a ser lançada em compacto - desta vez no lado A -, coincidentemente com Meat Is Murder, o terceiro LP. Como a canção é escolhida pela Warner para estourar a banda nos EUA, integra também a edição americana do disco. E vira um clip, para desgosto de Morrissey e banda.
    Hora da questão crucial: por que os Smiths ainda não foram lançados aqui? Algumas rádios, como a Antena Um e a Transamérica em SP e a Fluminense e a Estácio no Rio, já tocam. Talvez seja só uma questão de tempo: a WEA já iniciou os contatos. Depende mais de Rough Trade do que da sua representante nos EUA, a matriz da gravadora "brasileira".

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