quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Bizz número 1 - Rita Lee - Titia, eu não estou com leucemia

TITIA, EU NÃO ESTOU COM LEUCEMIA

    Agora que chegou a hora de colocar um ponto final nesse exílio voluntário, ela passeia de um lado para o outro com seu conhecido sorriso moleque. Não parece nem um pouco preocupada com as inevitáveis pressões e expectativas acumuladas. Afinal, não estaria superpopulada a quadra dos Unidos do Rock Engraçadinho?
    "Não tenho nenhuma resposta para dar a nada, a ninguém.., nem sinto a menor vontade de compor um ´Arrombou o Rock´. Estou é aproveitando essa rara oportunidade de poder fazer um disco com tempo e calma."
    Bombom, seu último LP, foi feito, segundo ela, a toque de caixa, no mais impessoal esquema linha de montagem. Não fizeram muito mais que entregar as canções nas mãos dos produtores, arranjadores e músicos de estúdio contratados em Los Angeles.

    Participações especiais
    Agora, a julgar pela técnica de composição utilizada por ela e o inseparável Roberto de Carvalho, vem aí um prato cheio de tecnorock explícito. Todas as bases foram montadas em blocos apenas pelo marido/guitarrista, auxiliado por um arsenal de teclados computadorizados (ver ficha técnica).
    Nenhum músico de estúdio na jogada. "Intervenções" no casulo eletrônico do casal ficarão por conta exclusiva de participações especialíssimas como os ex-Mutantes Liminha e Serginho Dias, os Paralamas João Barone e Herbert Vianna, mais Paula Toller. Ex-Mutantes? Peraí. Seria algum revival? ´´Não, apenas releituras", ela rebate com uma risadinha Mestres do Suspense.
    Rita guarda péssimas recordações da maratona de shows que ela e Roberto fizeram, do Oiapoque ao Chuí. no verão 82/83. ´Meu pai estava morrendo, acho que foi por isso que senti necessidade de me chapar... chapar através de um ritmo de trabalho desumano daqueles." Apenas uma lembrança bem-humorada: em certa cidade do Norte, chegaram a pensar que ela estava dublando em cima de playback por causa de seu microfone sem fio. "Foi um Projeto Rondon", arremata.

    Risoleta do rock
    E a tal nova geração do rock nativo? Rita conta que tem recebido visitas, no estúdio, do pessoal da Gang 90, Metrô, Degradée, feliz por ter sido tratada com a cumplicidade que se dedica a uma irmã mais velha- e não como a grande Titia simbólica pertencendo ao passado. Esse papo de rainha do Rock Brasileiro", do qual ela nunca gostou muito: ´Estou mais para a Risoleta do rock". Outra gargalhada.
    No balanço final, Rita coloca como o grande ponto positivo de sua parada essa oportunidade de ouvir com atenção tudo que está surgindo, tanto aqui como lá fora. Está apaixonada pelo Style Council e seu pop latino, o expunk Paul Weller compondo bossa-nova: "Acho demais, minha relação com a música brasileira sempre foi mais bossa do que sambão". Dá "graças a Deus" pelos Eurythmics, o tecnocasal britânico (alguma identificação?). Exaltada, ela passa a disparar preferências: Prince ("ousadias mil"), o disco solo de Mick Jagger, Pretenders (essa, uma paixão mais antiga), Haircut 100, Frankie Goes to Hollywood ("pelo som da bateria"), Smiths nem tanto ("acho que fiquei meio indisposta com o surto de adoração generalizada").
    Muito bem. E o novo LP, como está? Rocks, rockaços ou baladas aboleradas? ´´Tem uma baladona bem brega, Vítima, o resto é rock mesmo. A leva inclui Titia, Eu Não Estou Com Leucemia, para responder à boataria que varreu a imprensa um pouco antes e durante o Rock in Rio. O resto está trancado a sete chaves até que o disco seja lançado, em setembro.

Ficha técnica


    Todas as bases das canções compostas para o novo LP de Rita e Roberto de Carvalho foram gravadas exclusivamente pelo guitarrista de teclados computadorizados. O sequenciador QXI da Yamaha controla e sincroniza todos eles.- um JX3F da Roland, mais um DXI e três DX7 da Yamaha. A ´cozinha" fica a cargo de dois computadores rítmicos, um Dr. Flick e um LynnDrum II custom (isto é, adaptado segundo encomenda).
    Tudo isso conectado a uma mesa Boogie, somada a um Room Simulator AMS, para dar "acústica ambiental" aos sons sintetizados digital ou analogicamente. A guitarra mais utilizada por Roberto é uma Fender Stratocaster, também custom.

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