sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Bizz número 2 - Lançamentos III

 
BROTHERS IN ARMS - Dire Straits (Polygram)
    Os adeptos de revoluções e revoluções por minuto podem não se sensibilizar com o requintado apego dos Straits às formas clássicas do rhythm´n´blues e do country. Mas, quem ficou com o queixo no colo assistindo a banda no Live Aid, pode se preparar. Brothers in Arms traz Mark Knopfler e Cia. no mesmo grau de inspiração de seu álbum de estréia (78) e de Love over Gold (81). Puxando o lote de pérolas variadas, Money for Nothing decola com um riff guitarreiro que ameaça plagiar "Jumping Jack Flash", mas sai pela tangente. Com uma forte participação de Sting no vocal, a música lembra uma atualização do clássico "So You Want to Be a Rock´n´Roll Star" dos Byrds, ao contar a história de um trabalhador durango que, assistindo clips e clips, resmunga com seus botões: "Eu devia ter aprendido a tocar guitarra, bateria/ é assim que se faz/ você toca guitarra na MIV/ ganha dinheiro fazendo nada/ e garotas de graça".

    RISING FORCE - Yngwie Malmsteen (Polygram)
    Alguns amigos vivem falando dele e alguns muros de colégios burgueses das grandes cidades têm sido pichados comparando Yngwie Malmsteen ao vovô Eric Clapton. Então, me interessei em saber por que tanta falação em torno desse sueco que já tocou no grupo Alcatrazz, de quem pouca coisa ouvi.
    Yngwie é tido como o melhor guitarrista roqueiro do momento e nos surpreende por seus precisos, belos e eficientes solos em guitarras acústicas e elétricas.
    Além disso, é o produtor, compositor, letrista, arranjador e otras cositas más. Posso estar enganado, mas, rarissimamente têm aparecido no atual estágio do heavy metal guitarristas criativos como Yngwie.
    Leopoldo Rey

    A SENSE OF WONDER - Van Morrison (Polygram)
    Ponto pacífico: Van Morrison é um gênio. É o autor do clássico "Gloria" - que já passou pelo repertório tanto de Patti Smith como dos Doors - e dois LPs que, mais cedo ou mais tarde, vão acabar entrando na nossa Discoteca Básica: Astral Weeks (68) e Moondance (70). Além disso, seu fascinante híbrido de country e folk irlandês com a música negra mais religiosa (gospels) e o blues é a fonte de inspiração de grupos como Dexy´s Midnight Runners (lembra?) e uma das confessas alegrias da vida de Bono Vox. Neste LP, Morrison brilha - como cantor e letrista - de cabo a rabo, e há até faixas instrumentais como "Evening Meditation". Mas apaixonantes à primeira audição mesmo são a rasgada "Tore Down à la Rimbaud", "The Master’s Eyes" e "Let the Slave" (sobre poema de William Blake). Um dos melhores discos do mês, e olha só a concorrência.

    THE DREAM OF THE BLUE TURTLES - Sting (CBS)
    As macacas do Sting podem estar encantadas com o bronzeado que o cantor anda exibindo. Mas é capaz que esse disco deixe os fãs do Police com os pêlos em pé. Quem leu a reportagem sobre sua aventura solo no nº1 de BIZZ conhece os detalhes: uma superbanda de jazzistas, Sting trocando o baixo pela guitarra etc. Só que apesar de todas as expectativas, tem levado uns bons malhos da crítica internacional. A verdade é que sai a despojada elegância do Police, para entrar um som gordo, sem espaço para o silêncio. Alto nível instrumental, claro, mas uma atmosfera impessoal. Vale a pena pelo rearranjo total de "Shadows in the Rain". No mais, o fominha Sting também participa de mais discos lançados este mês: o de Miles Davis e o do Dire Straits.

    NORMAL - Lulu Santos (WEA)
    "Não adianta querer mudar, já está tudo no lugar", diz Lulu na letra de "Replay". Pode ser que, com público certo para seu novo disco, ele considere que não resta espaço para inovação. Pode ser que Lulu tenha feito uma escolha deliberada, a da linearidade. Mesmo bem produzido e executado, o LP não tem surpresas e deixa a impressão final de que Lulu pode estar atacado de um certo desencanto. Como afirma seu parceiro Nelson Motta em "De Repente": "De repente o que era novo envelheceu de novo, de repente não há mais saco pra tanto papo que já se ouviu".
    J.E.M.
 
 
 
RÁPIDO & RASTEIRO

    Em ROSAS E TIGRES (Som Livre), a Gang 90 continua a mesma de Júlio Barroso: boas idéias perdidas numa execução "de estúdio" e vocal capenga. A NAVE VAI (EMI-Odeon), do 14 Bis, vai mesmo à deriva, na tradicional fusão de soft-sertanejo mineiro com progressivo paulista que tanto agrada os fãs da banda. Já a trilha sonora de THE BREAKFAST CLUB {CBS) traz a maravilha "Don´t You (Forget About Me)" dos Simple Minds é só. DROP EVERYTHING (WEA) é a estréia mundial do grupo Lady Pank, ou seja, rock polonês para boi dormir. TWO HEARTS (CBS), terceiro LP dos australianos Men at Work, mostra que, apesar da produção de Bob Clearmountain, eles continuam o mesmo wave teor lightíssimo para órfãos do Police. MASK (Polygram) é o terceiro LP de Vangelis lançado aqui só neste ano; com a participação do coral da English Symphony e tudo, para mim ainda é o mesmo dos tempos do Aphrodite´s Child: agradável música para fundo de conversa. Resumindo: Vangelis é bom mesmo no cinema. ME & PAUL (CBS) de Willie Nelson é uma viagem... sem escalas até a terra de Marlboro. Apenas para fanáticos do sertanejo ianque. As cinco estrelas vão mesmo para as séries MASTERWORKS e GREAT PERFORMANCES (CBS), das quais são extraídos os discos com obras de Varèse e Bach comentados nas páginas anteriores. Ao todo, um rico painel da música erudita, dos clássicos aos contemporâneos. Enquanto isso, a tradicional série JAZZ COLLECTOR (CBS) continua soltando preciosidades. Desta vez, BLUESIN´ AROUND do sutílíssimo guitarrista Kenny Burrell, e ALMOST FORGOTTEN, uma bela coletânea dedicada a grandes instrumentistas, onde se destacam as bandas de Slide Hampton e Coleman Hawkins.

 
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