quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Bizz número 1 - Visual - Vídeo


OLHAR ELETRÔNICO A NOVA TV

    Ao sucesso! O aloprado disc-jockey Bob MacJack (foto central) dá o tom de Crig-Rá, o programa que está colocando a produtora paulista em cadeia nacional. Nesta entrevista a Sófia Maia, Marcelo Machado (foto acima) dá todos os antecedentes e coordenadas da turma responsável pelo que há de novo no ar.

    Uma câmera na mão e muitas idéias na cabeça. Foi assim que, em março de 82, três irriquietas figuras fundavam a produtora independente Olhar Eletrônico. Os sócios proprietários Fernando Meirelles, Paulo Morelli e Marcelo Machado compraram uma câmera profissional, arrumaram uma grana (modesta) e tOr4m para a rua.
    De lá para cá, a Olhar Eletrônico conseguiu prêmios em dois festivais de vídeo, criou a personagem hilária e irreverente do repórter Ernesto Varela (vivida pelo ator Marcelo as e estabeleceu uma nova linguagem nos vídeos do Brasil.
    Esta nova linguagem, rápida, bem-humorada, alinhavada por vinhetas e balões emprestados da linguagem dos quadrinhos, conseguiu jogar no vídeo justamente o que a moçada não estava vendo na televisão. Um visual recheado de rock, de uma forma de jornalismo que junta o fato ao pique freak dos clips e de um cotidiano escamoteado pelas grandes redes de televisão. A linguagem do programa Crig-Rá (o grito de guerra de iarzã, o rei dos macacos).
    Havia outros nomes, como Tesouros da Juventude, ou Freqüência Modulada", conta Marcelo Machado. Mas existia unia identificação do pessoal da Olhar com os quadrinhos. Aí, um dia, alguém gritou Crig-Rá! E a macacada adorou!"
    O caminho para se chegar ao Crig-Rá não foi fácil. A Olhar fez quase de tudo. As primeiras e pequenas produções fizeram o passeio ritual e inevitável pelo chamado circuito cultural de São Paulo e de outras capitais - museus, salas de vídeo, lugares de encontro de uma turma que, se gratifica pela atenção dispensada, não colabora muito no lado do necessário retomo financeiro.

    Mistura de linguagens
    Ao se unir, o grupo procurava uma fusão de suas experiências anteriores, um encontro de música, desenho, cinema, vídeo e literatura. A televisão permitia maior penetração, pegando não só o jovem mas diversas camadas etárias e sociais. E o cinema estava fora do alcance dos bolsos da turma da Olhar.
    É claro que os primeiros trabalhos, como Garotos do Subúrbio e Eletroagentes, estavam carregados do que a TV convencional chamaria vícios, e que a Olhar chamou de "defeitos especiais". Em Eletroagentes, por exemplo, precisavam de um cometa na tela. O cometa foi representado por dois faróis acesos em frente à câmera numa estrada escura. Só que, normalmente, não se filma pontos de luz muito fortes assim de frente. Eles produzem riscos ondulados no vídeo, considerados tecnicamente como erros.
    Em Garotos do Subúrbio usaram o que chamam de "corte sem remendo". Explica Machado: "Sempre que se faz uma reportagem, é comum, se você cortar a imagem do entrevistado no meio da fala, colocar outra imagem no meio, um insert. Isso para não dar pulos na imagem ou na fala". Mas no final de Garotos a Olhar deixou as falas com pulo, "o que deu ritmo às imagens e ao som". Eletroagentes foi uma co-produção com Alfredo Fritz e falava sobre ltaipu. Garotos é um documentário sobre os punks paulistas.
    Já acostumada com o pique, a turma da Olhar partiu para o trabalho direto. Mesmo nos fins de semana. Chato era quando chegava com os trabalhos nas emissoras de televisão. Todo mundo gostava. A resposta, porém, era invariável: "Vocês estão loucos! Não dá para pôr isto no ar!" "As pessoas não estão interessadas em comprar as coisas que a gente mais gosta de fazer", concluiu Marcelo Machado. Era necessário um esforço comercial "numa boa".
    A Olhar inscreveu toda sua produção no primeiro e segundo festivais de vídeo do Museu da Imagem e do Som/Fotoptíca, realizados em São Paulo em agosto de 83 e junho de 84. E levou primeiro lugar nos dois anos seguidos, um deles em regime de co-produção. Em 83, com Marli Normal, o cotidiano de uma jovem classe média. E em 1984 com Eletricidade (co-produção, mais uma vez com Fritz), um clip com a música do tecladista high-tech Kodiak Bachine, dc extinto grupo Agentss. O clip usou até, em seus efeitos, os recursos do Instituto de Física da Universidade de São Paulo.

    Padrão Japão

    Os prêmios abriram as portas. A Olhar foi a campo, com Goulart de Andrade - que também estava atrás de uma fórmula para a nova reportagem na TV Gazeta. Com a ida de Goulart para a Record, a Olhar mudou-se para a Abril Vídeo. Onde até hoje permanece, com sucesso. Com Crig-Rá. Um programa baseado em um personagem central, Bob Maciack, outro tipo vivido por Marcelo Tas. Maciack, no vídeo, é um assombro. Roupinha super niu uêive, óculos escuros, a pele lambuzada de óleo brilhando para as câmaras. O homem-âncora MacJack é uma reunião dos estereótipos que estão aí. A comida plástica de cada dia, a rapidez da metrópole, o consumo acelerado da produção artística - em especial a música, hoje descartável.
    O patético MacJack fala em FM. Quer chegar a um público composto de adolescentes, de 13 a 25 anos. E o programa adota um visual próximo do japonês: "A diagramação das revistas japonesas não tem muita limpeza, tem um acúmulo de informações, muita imagem, choque. O padrão Japão é muito avançado. E a união Oriente/Ocidente dá um equilíbrio maior, uma interação universal". Recheando tudo, videoclips. E as reportagens de Sandrinha, 16 anos.
    O retomo de Crig-Rá, há cinco meses no ar, é compensador. Um Ibope que já chegou aos quatro pontos na Abril Vídeo (cidade de São Paulo). Cartas apaixonadas. Um público que, mesmo relativamente pequeno, é ligado e participativo. E um investimento profissional que leva a gente a acreditar - ainda bem - na vitória de um jeito novo de fazer TV.

Onde mesmo?

    O Crig-Rá pode ser visto em São Paulo (capital) pela TV Gazeta, canal, 11, aos domingos, 19h30. No Rio, aos sábados, 21h, pela Record, canal 9. E, finalmente, em Porto Alegre, pela TV Guaíba, canal 2, aos sábados, 14h. O programa deverá estar aparecendo logo em Brasília, Belo Horizonte, Curitiba, Salvador e Manaus. Fiquem atentos.

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