sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Bizz número 1 - Discos/Lançamentos




    FOGO CRUZADO
    SP METAL II - Abutre, Performances, Korzus e Santuário.
    A FERRO E FOGO - Harppia (Baratos Afins)

    Aperte os cintos porque lá vem pauleira. Juntos, estes grupos formam a novíssima geração do heavy metal paulista. Separados, são indistinguíveis entre si. Todos eles repartem uma obsessão comum por imagens apocalípticas e pela mais densa massa sonora que consigam gerar. É possível perceber influências de absolutamente todas as bandas heavy do mundo e, portanto, fica difícil extrair uma identidade própria de cada grupo. O Harppia, por exemplo, é a cara do Iron Maiden. Será que ninguém consegue inventar um heavy diferente?

    A DAMA E O VAGABUNDO
    GET BACK - Ike & Tina Turner (EMI-Odeon)

    Quando Tina abandonou o marido e partner lke Turner, estava dando o mais importante passo de sua vida. Como pessoa, libertou-se do jugo de um homem possessivo e violento; como artista, livrou-se da bitolação de lke, que odiava o rock´n´roll que Tina sempre amara. Agora que Tina é uma estrela multiplatinada, a grande dama negra do rock, sai esta compilação do melhor de sua carreira com Ike. É imperdível para quem só conheceu Tina a partir do álbum Private Dancer. Detalhe; todo o brilho de Get Back pertence a Tina. Ike, com o passar dos anos, continua bem vagabundinho.

    SENHOR DO TROVAO
    SHAKEN´N´STIRRED - Robert Plant (WEA)

    Os fãs do Led Zeppelin não esquecem essa voz nórdica, tão potente que parece saída do próprio Deus do Trovão, Thor. Combinada à guitarra lancinante de Jimmy Page, ao baixo coruscante de John Paul Jones e à bateria locomotiva de John Bonham, a voz de Robert Plant era parte de um dos melhores e mais influentes grupos de rock de todos os tempos. Hoje, a carreira solo de Plant não é um mero filhote" do Zep. Seu som é mais sofisticado, mais variado, uma boa aula de rock na meia-idade. Só não é menos tonitruante. que o som do Zep. Basta conferir a explosiva "Hip Ro Hoo".

    INTELIGENTE BOBO-DA-CORTE
    CRAZY FROM THE HEAT - Dave Lee Roth (WEA)

    Primeiro, um aviso; este disco não tem nada a ver com o Van Halen. Embora Dave Lee seja um sócio-fundador do quarteto, este seu primeiro disco solo passa bem longe do big rock de sua banda. Ao contrário, ele preferiu se divertir com músicas tradicionais do pop norte-americano, como "California Girls", dos Beach Boys (atente para os vocais do próprio Brian Wilson, compositor da música) e "Just a Gigolo". Porém ele não se esqueceu de injetar seu sarcasmo e seu espírito de bobo-da-corte em cada faixa. Só que agora ele soa muito mais inteligente do que era esperado deste confesso bufão.

    CABEÇAS SIMPLES
    LITTLE CREATURES - Talking Heads (EMI.Odeon)

    Controvérsia é o mínimo que Little Creatures pode causar. Depois de ter explorado as possibilidades da música africana, depois de meses a fio transmutado num octeto funk, depois de ter encabeçado a vanguarda rock, o Talking Heads descascou todas as camadas de influências acumuladas através dos anos e assumiu a mais simples (simplória?) de suas identidades: é, de novo, um econômico quarteto (participam apenas alguns músicos convidados, como Naná Vasconcelos). E faz músicas simples, sem maiores elocubrações, com letras simples. Pros acostumados à sofisticacão de clássicos do Heads (Once in a Lifetime", por exemplo), este disco é um susto. Pros menos irritados, cresce a cada audição.

    PLIM PLIM
    TELEVISÃO - Titãs (WEA)

    Ligue seu aparelho de TV e ponha este álbum no toca-discos, É a trilha sonora adequada para a telinha-que-hipnotiza-e-emburrece-enquanto-diverte. Televisão brinca com os clichês da comunidade tela videota como nenhum disco conseguiu antes no Brasil e amplia o alcance dos Titãs de uma forma notável. Eles passeiam pelo reggae, pelo brega, pelo funk - sempre com desenvoltura - até chegarem ao climático final de "Massacre", um rugido de microfonias que comenta Jornal Nacional., em italiano.

    MARCANDO PASSO
    1984 -Eurythmics (RCA)

    Esta é a trilha sonora original do filme 1984. Mas não espere ouvi-la no cinema. É que, na última hora, o diretor Michael Radford resolveu trocar o trabalho de Anuie Lennox (vocais) e Dave Stewart (guitarras e teclados) pelo de outro compositor. Mesmo assim o disco saiu e não se segurou sozinho. Divorciada das imagens do filme, a trilha pouco tem a ver com o restante da carreira dos Eurythmics. Vale apenas enquanto não chega Be Yourself Tonight, o sensacional novo álbum da dupla, cujo carro-chefe, "Would I Lie To You" é simplesmente um estraçalhante funk à la Motown. Até lá, só nos resta marcar passo.

    QUÁ, QUÁ, QUÁ
    COMO E BOM SER PUNK - Língua de Trapo (RGE)
    O MELHOR DOS IGUAIS - Premeditando o Breque (EMI-Odeon)

    Fazer rir é difícil. Em música, então, nem se fala. O Premê e o Língua de Trapo são dos poucos grupos que fazem músicas para rir. E fazem bem.
    A versão atual do Premê é mais polida, mais "profissional", graças ao dedo experimentado do produtor Lulu Santos. E gozado, tal e coisa, mas é um gozado quase erudito para quem está acostumado a ter verdadeiros espasmos de gargalhadas. Falta escracho.
    Que há de sobra na última fornada do L.D.T.; gozações descabeladas que não poupam ninguém. Da doce valsa "Como É Bom Ser Punk" ao "Samba-Enredo da TRP" ("hoje sou fascista na avenida, minha escola é a mais querida/ Dos reaça nacional") é riso só.

    RE-VISÃO
    RÉ-SOL-VIDA - Gilberto Gil (WEA)

    Gil não pára. E o tipo de pessoa que descansa carregando pedras. E comparece às prateleiras das lojas de discos com uma freqüência assustadora. Pouco tempo depois do brilhante Raça Humana, Gil acaba de despejar uma trilogia de álbuns que revisa o período de sua carreira que vai de 71 a 81. O naco mais recente de sua obra está no lado A do disco Vida (faixas como "Palco" e "Realce"), enquanto a parte mais interessante está no africanismo do lado B do disco Sol ("Baba Alapalan", "Logunede").

    BOB MARLEY. JAH!
    LEGEND - Bob Marley & the Wailers (WEA)

    Stevie Wonder disse a Gilberto Gil; "Bob Marley estava à frente do seu tempo". Acertou em cheio. As quatorze faixas reunidas nesta compilação do melhor de Marley sublinham seu lugar único na propagação do reggae pelo mundo. Poeticamente incisivo, musicalmente hipnótico, melodicamente brilhante, Marley ainda é hoje, quatro anos após sua morte, o reggae. Palmas especiais para o texto de Timothy White na contracapa.

    PURO POP
    KATRINA AND THE WAVES - Katrina and the Waves (EMI-Odeon)

    Uma garota americana, apaixonada por rock mas de saco cheio com seu país, vai para a Inglaterra, junta-se a um bando de músicos, forma uma banda e retorna aos Estados Unidos com um grande sucesso e um delicioso sabor de vingança nos lábios. Parece a história de Chrissie Hynde e os Pretenders.
    Mas não é. Trata-se de Katrina and the Waves; pop anglo-americano puro, como em ´Walking ou Sunshine" (o maior sucesso do grupo) e "Going Down to Liverpool", já gravada antes pelas meninas do Bangles, outra nova sensação do rock americano.

    ENTENDA UM MOD
    MUDANÇA DE COMPORTAMENTO-Ira! (WEA)

    "Ninguém entende um mod" eles cantam na faixa que leva esse título e, no final, descamba do funk para o maior batucão à Jorge Ben. Mas, se você leu a matéria da pág.47 já sabe do que se trata.
    O Ira! é a versão brasileira, atualizada e passada a limpo, dos mods ingleses - elegância a dar´ com o pau, estilo a se perder de vista e uma mescla de funk e rock tão maciça e musculosa que por pouco não deixa que se descubra o romantismo sonhador das letras.
    Um álbum para os neurônios e os quadris, com adrenalina jorrando desde os primeiros sulcos.

    SEM PERIGO
    EMPIRE BURLESQUE - Bob Dylan (CBS)

    Falou-se muito da atual mutação de Bob Dylan. Ele teria abandonado suas pregações evangélicas por uma - persona - artística bem próxima do Dylan versão anos 60. Bom, na verdade ele mudou. Empire Burlesque é seu disco mais visceral e mais pesado em muito tempo. Auxiliado por artistas como Ron Wooci, Mick Taylor, Kobbie Shakespeare, Al Kooper e Jim Keltner, Dylan soa rejuvenescido e bem disposto. Ajudam bastante, também, as remixagens do genial Arthur Baker. Mas quem esperava a volta do Dylan político prepare-se para uma decepção. A exceção de duas faixas, todo o disco fala de amor. Reagan pode respirar aliviado. Empire Burlesque não oferece perigo.

    NO AR, A REVOLUÇÃO
    REVOLUÇÕES POR MINUTO - RPM (CBS)

    Pensava que já não se fizesse mais discos assim; pungente, dinâmico, vigoroso, revelador e emocionante. O RPM provoca uma verdadeira invasão dos sentidos com letras sensíveis e inteligentes ("Rádio Pirata" e "Revoluções por Minuto"), melodias pop inesquecíveis ("Louras Geladas" e "Sob a Luz do Sol") e poderosas hecatombes sônicas.
    A produção de Luiz Carlos Maluly é suprema, emprestando ao RPM uma sonoridade gorda e moderna sem ser "moderninha".
    A adesão do RPM à ponta do aríete rock que vem arrombando as portas do mercado fonográfico nacional é mais do que bem-vinda. É vital.

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