quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Bizz número 1 - Ira! - Contra o som descartável

CONTRA O SOM DESCARTÁVEL

    Antes era Ira. Agora é Ira! A exclamação serve para sinalizar o fim de uma fase e o começo de outra. Não foi à toa que batizaram seu LP de Mudança de comportamento.
    Da formação que gravou o compacto ´Pobres Paulistas"!´ ´Gritos na Multidão" em 83 e que atraiu já um grande número de seguidores, restam o    vocalista Marcos "Nasi" Valladão e o guitarrista Edgard Scandura.
    Edgard é um capitulo a parte. Instrumentista polivalente, já foi baterista das Mercenárias, é autor da maior parte das musicas do IRA! É um backing-vocalista supremo e mais, é considerado por muita    o grande guitarrista do rock no país.
    A parceira inseparável de Edgard é uma velha Giannini Stratosonic, com um Who escrito e esferográfica juntos aos captadores. Nem no estudio ele troçou sua Gianola (como a chama carinhosamente) pelas Fender, Gibson e Ibanez descoladas pela produção. E o resultado você ouve no disco
    Os rostos novos da banda são o ;-baterista André (ex-Titãs) e o baixista Gaspa (ex-Cabine C e Voluntários da Pátria). Perfeitamente sintonizados com o lema da banda - segundo Edgard, "tudo menos uma música passageira, descartável".
    Nasi. que ganhou este apelido na escola (nada a ver com a suástica), arremata: "Só se vende e divulga abobrinha. Até parece caretice fazer música séria no Brasil".
    Durante um tempo, desinformados em geral armaram uma reputação punk para a banda, cujo nome remete à sigla que identifica o Exército Republicano Irlandês. O grupo na verdade se lançou no Festival Punk da PUC de São Paulo, em 81. A influência está lá, numa temática com poesia e sem miséria", como define Edgard. Mas não é predominante. No som do Ira! entram todos os estilos.
    O show de lançamento do LP Mudança na danceteria Pool de São Paulo reflete esta mistura. Requintada ambientação visual psicodélica. Utilizando o velho efeito da projeção de luz através de uma mistura de água e óleo, o artista plástico Antônio Peticov transportou corações e mentes presentes para meados dos anos 60. Exatamente o terreno onde anda a influência básica da banda. O terreno dos mods.
    Aqui, um parêntese histórico. Os mods, abreviação de modernistas, eram uma das tribos que tomaram a. Inglaterra dos anos 60. Deixando de lado modelitos e corte de cabelo, o essencial fica justamente na ânsia de atacar todos os estilos.Passaram pelo blues,pelos ritmos negros como funk e ska, mas bastava virar moda e partiam para outraMod é a antimoda. Mod é estilo, como demonstra Paul Weller e seu Style Council.
    Não que caiba no Ira! Porém , o rótulo de grupo mod paulista, como querem alguns. O grupo acha que desinformação, o besteirol generalizado, fazem parte de um horizonte negro que está se desanuviando. Aponta como grande responsável pela mudança na qualidade de informação na música o Rock in Rio. "Ele afinou os ouvidos", diz Nasi, ressaltando que "os grupos estrangeiros entraram com muito mais garra e profissionalismo."
    Estes ouvidos afinados estão proliferando. E o que o Ira! sente pela receptividade do público desde que, no começo do ano, a banda esquentou as turbinas para o LP tocando em danceterias do Rio, São Paulo e Minas Gerais. Eles preferem, porém, um palco de teatro. Chegaram até a tocar no Museu de Arte de São Paulo, apesar da resistência: "Tivemos mil dificuldades para fazer o show. mas insistimos porque é um espaço que precisa ser ocupado", afirma Nasi. Ele só esqueceu de contar que foi o maior sucesso.

Um comentário:

  1. Legal essa matéria. Deu saudade. Espero que, um dia, o IRA! possa superar as diferenças entre membros.
    os fãs merecem esse sacrifício.
    valeu!!!

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